Extermínio pela popularidade

Já entramos em ritmo das eleições de 2026. E a matança de Claudio Castro foi o gatilho que faltava à extrema direita para unificar seu discurso, mesmo fragmentada, em torno da segurança. Tanto que todos os governadores desse segmento vieram ao Rio se solidarizar com nosso governador e ainda criaram o vergonhoso Consórcio da Paz.  

Castro passou a ser o exterminador de bandidos. (Alguém que se cacifou no passado como caçador de marajás...). Para o PL, a Operação Contenção devolve a Castro a capacidade de se candidatar ao Senado. Sangue dá votos!

Detalhe: Edgar Alves de Andrade, o Doca, líder do Comando Vermelho (CV), escapou (deve ter pago propina a alguém). Nenhum dos 109 mortos já identificados constam da denúncia do MP. E Castro sustenta que a operação foi um sucesso...

Embora não vivamos sob uma insegurança como a de Gaza, matamos muito mais, em tempo menor. Para a antropóloga Jaqueline Muniz, especialista em segurança pública, operações violentas só servem para sustentar a produção da insegurança como projeto de poder para fins eleitorais.

(Há quem diga que a assassina operação foi motivada pela baixa popularidade de Castro, às vésperas do julgamento pelo TSE que pode cassar seu mandato. E que um dos principais objetivos, senão o principal, foi devolver a perda de território das milícias para ao CV).

Apesar do anunciado um ano de planejamento, não houve integração entre as forças policiais, foi “tudo preparado para ele (Castro) brilhar, para ele fazer estatística e filminho de Instagram. E como é que você faz isso? Aparelhando o medo", aponta a antropóloga. 

E, de fato, a opinião pública bateu palmas.

Não por acaso, o morticínio foi antecedido pelo pedido de Flávio Bolsonaro para os EUA bombardearem os barcos de traficantes da Baía de Guanabara, nessa hora em que os EUA já eliminaram 61 na América do Sul. Timing perfeito...

A PEC da Segurança descansa na Câmara Federal desde abril, com promessas de atuação integrada das forças policiais dos 27 estados da federação, a partir de uma base de dados e procedimentos padronizados. Após o morticínio, Hugo Motta prometeu votá-la em dezembro.

Já o tal Conselho da Paz defende que só eles, governadores, mandam na segurança pública. Mais ninguém.

É duro constatar que a morte de 119- entre bandidos e inocentes - de nada valeu. No dia seguinte tudo continuava como antes, com maconha e cocaína vendidas pelas esquinas, os moradores pagando por serviços que o estado deveria prover e o medo que só faz crescer. 

Ainda estamos a anos luz de ver uma solução para o problema do crime organizado que se alastra feito praga. E ela não está, claro, nessas operações policiais que derramam sangue nas comunidades e só servem de propaganda para a extrema direita recuperar o terreno perdido para Lula.

Será que ainda veremos foco e vontade política - organizados -para combater esse problema que parece insolúvel? 

(Charge Aroeira no Site 247)