O outro lado da liminar de Gilmar

 

Quando o ministro Gilmar Mendes tomou a decisão liminar que limita o impeachment de ministros do STF ao crivo da Procuradoria Geral da República (PGR), respirei aliviada. É o antídoto para anular a tentativa de Bolsonaro de controlar o STF através de uma maioria no Senado.

A liminar ainda passará pelo pleno do STF semana que vem.

Meu pensamento, porém, foi contrário à opinião majoritária, que condenou radicalmente a decisão. Claro que o grito mais contundente veio de Davi Alcolumbre: “Uma grave ofensa à separação dos Poderes”, vociferou.

A colunista Malu Gaspar chamou de nova “PEC da Blindagem”, no caso, para os ministros do STF como o próprio Gilmar, alvo de 10 pedidos de impeachment. Até Jorge Messias, candidato de Lula à vaga deixada por Luís Roberto Barroso, pediu a Gilmar que “reconsiderasse” a decisão.

De minha parte, não tenho a menor dúvida de que devemos a continuidade da nossa democracia após as eleições de 2022 ao ministro Alexandre de Moraes. Que, não por acaso, é o campeão de pedidos de impeachment: 43, mais da metade dos 81 pedidos que existem no Senado.

Alguma dúvida de que a perseguição a Moraes é originada dos bolsonaristas? Que atualmente são 20 dos 81 senadores da casa. Quem assistiu a aula “A semente do caos” do professor João Cezar de Castro, no ICL, sabe que a prioridade da extrema direita em 2026 não é eleger o presidente. E sim ter a maioria do Senado para controlar o STF.

E é assustador como essa profecia se concretiza a olhos vistos. No Rio, os candidatos favoritos ao Senado são Flávio Bolsonaro e Cláudio Castro, ambos do PL. Em Santa Catarina, Carlos Bolsonaro já entra no páreo para representar Santa Catarina – o que o filho 02 de Bolsonaro tem a ver com Santa Catarina? – favorecido. E tem como concorrente a asquerosa bolsonarista Caroline De Toni.

No que depender do ex-presidente, Michelle disputa a vaga ao Senado no DF. Isso se o PL não a escolher para disputar a presidência ou a vice. Seus predicados? Sua grande penetração conquistado entre os evangélicos. Só.

É apavorante ver que a estratégia de Bolsonaro caminha a passos largos ao sucesso, sem nada que se possa fazer para impedir essa tsunami do mal. Por isso, vi na decisão de Gilmar a única alternativa para escaparmos desse plano macabro.

E, assim como Moraes possa ter cometido algum excesso em sua luta pela manutenção de nossa democracia, vejo na iniciativa de Gilmar – desde que referendada pelo pleno – a única chance de evitar que a democracia morra por dentro, como querem bolsonaristas e extremistas de direita.