Centro, palco consagrado


Entra ano, sai ano, não há bairro do Rio que consiga superar a hegemonia das ruas do Centro. A orla, de Copacabana ao Leblon, bem que tenta, porém, a recente comemoração pela vitória do Flamengo no Peru confirma que o Centro continua com tudo. Estão ai para consolidar essa fama eventos como a Passeata dos 100 mil, das Diretas Já ou pelos impeachment de Collor a Dilma, seja na Avenida Presidente Vargas, na Rio Branco ou em suas artérias. Nos compêndios históricos ou em seus bastidores.
Tudo começou pela Rua Direita, a mais antiga da cidade, hoje Primeiro de Março. Ela ligava o Largo da Misericórdia à Ladeira de São Bento e foi batizada de Direita não por algum vínculo político, apenas pelo fato de ser plana e reta. 
Uma das curiosidades é que antes da chegada da Família Real ao Rio, em 1808 – a cidade, já capital do império português, recebia recursos para a construir sua Sé. Quando D.João foi procurar a tal Sé para ser coroado, todavia, tudo o que encontrou foram apenas as fundações. O monarca foi então conduzido a uma igreja de negros na Rua da Vala, hoje Uruguaiana, e se indignou. E a inauguração da tal igreja só aconteceu mesmo em 1811.
A cereja do bolo, contudo, reúne o Paço Imperial, com seu elegante estilo colonial português, e a Igreja Nossa Senhora do Carmo, a antiga Sé. Essa história começa em 1733, quando o governador Gomes Freire de Andrade pede licença a Portugal para erguer ali a sede do governo do Rio. O projeto do engenheiro José Fernandes Pinto Algoim foi concluído em 1763, com o aproveitamento de edifícios pré-existentes, o Armazém Real e a Casa da Moeda, que continuaram a funcionar no andar térreo. E aquela que foi Casa dos Governadores e dos Despachos do Vice-Rei, virou Paço Imperial em 1808, com a chegada da Família Real.
E foi de uma de suas sacadas que o imperador Pedro I, em 9 de janeiro de 1822, disse ao povo “eu fico”, diante da iminente ameaça de seu retorno a Portugal. Foi ali, também, que a Princesa Isabel leu a Lei Áurea, que 'libertou' os escravos, em 13 de março de 1888. Sem que essa multidão de cativos -   a maior das Américas – ganhasse alguma compensação para sobreviver. E vem daí uma das origens da nossa tragédia social. Mas ai já é outra história.       

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