Da cor ocre


Além de serem prédios históricos, o que teriam em comum a Biblioteca Nacional, no Centro; o Instituto Benjamin Constant e o Palácio Universitário - ambos na Praia Vermelha -; o Instituto dos Surdos e Mudos e o Palácio Guanabara - o dois em Laranjeiras - e o Museu Nacional, antes do incêndio? A mesma cor: ocre. Porém, nem sempre foi assim. Os mais velhos se lembram que o Museu Nacional era cor de rosa, assim como o Benjamin Constant e o Instituto dos Surdos e Mudos. Já os palácios da Guanabara, da Praia Vermelha e a Biblioteca Nacional foram brancos, antes das últimas reformas. E o ocre amarelado predomina na maior parte dos prédios históricos da cidade. Porquê?
Quem mata a charada é o arquiteto Paulo Belinha, superintendente do Escritório Técnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tem acompanhado de perto a restauração dos imóveis tombados da instituição, como o Palácio Universitário, o Hospital-Escola São Francisco de Assis e o Museu Nacional. “No fim do século 19, inicio do século 20, não havia tecnologia para moer pedras coloridas. Toda a pigmentação era feita à base de argila, daí a cor ocre. Mesmo após a revolução tecnológica que multiplicou a possibilidade de cores, o ocre se manteve”, bate o martelo.
O arquiteto Carlos Fernando de Andrade, ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), complementa a informação. Segundo ele, o ocre era a cor da tinta usada no passado para uniformizar a argamassa antes de receber a tinta definitiva. “Chamo isso de prospecção pictórica. Então, quando se descascava alguma superfície, chegava-se sempre à cor ocre.” Andrade observa que é impossível reproduzir com exatidão uma tinta usada no passado, por conta das influências sofridas do meio ambiente, que sempre alteram o tom original.
E a monocromia anterior, cor de rosa, de que muitos ainda se lembram, também tem uma razão de ser, conforme esclarece Paulo Bellinha. “Reza a lenda que quando Getúlio Vargas foi passar a lua de mel com Dona Darci, na Itália, apaixonou-se pelo vermelho siena usado nos monumentos de lá. Ao voltar, o rosa passou a ser a cor obrigatória para os monumentos daqui, por decreto presidencial.”
Funcionário do Museu Nacional, o arquiteto Ricardo Gomes assegura, contudo, que a cor original da residência dos imperadores, que antecedeu o Museu Nacional, era ocre. “Todas as documentações da mordomia (os empregados mais graduados) descreviam o palácio como sendo dessa cor.” Só que depois disso veio o decreto de Getúlio, uma reforma voltou a restaurar o ocre e o incêndio o destruiu. E ninguém duvida que depois de recuperado, o Museu Nacional volte a ser de cor ocre. Goste ou não, é a nossa sina.


Comentários

  1. Respostas
    1. Oi Rogerio, fiz essa materia no JB, achei tao interessante q resolvi retomar

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  2. Melhor que ser o presidente a decidir a cor, lá isso é...
    De qualquer maneira, procurar manter como era originalmente é um bom postulado da preservação dos prédios históricos. Quando isto se torna impossível por alguma razão maior, costuma-se fazer um recorte às vezes isolado por vidros, mostrando condições oruginais. Mas não seria este o caso dos monumentos citados.

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