Fio da meada literária

Outro dia uma amiga jornalista me perguntou se eu tinha cursado oficinas de literatura para entender o que me levou a escrever livros. Sim, fiz dois cursos no início dos anos 1980 com Maria Amélia Mello, o que me move, porém, é a compulsão pela leitura e o prazer de escrever.
Tudo começou com Marta de Senna, professora de literatura no ginásio do Colégio São Patrício. Me lembro como se fosse hoje. Para escrever é preciso ler. Muito. Não só acreditei no que ela disse, como  botei em prática. Minha largada foi Agatha Christie, o tipo da leitura instigante, que prende.
Profunda conhecedora de Machado de Assis, Marta nos introduziu aos clássicos brasileiros. A começar pelo olhar oblíquo de Capitu em “Dom Casmurro”. Me apaixonei pelo poder de concisão e as frases curtas de Graciliano Ramos. Fiquei fascinada com o leit motiv do pio das corujas em São Bernardo e li tudo dele que encontrei pela frente. 
No jornalismo, tentei adotar o estilo curto e grosso de Graciliano. Seco. Claro que não deu muito certo. Nesse meio tempo, me deparei com as longas e bem estruturadas frases de Guimarães Rosa que sacudiram o Graciliano que existia em mim, na obra-prima “Grande Sertão Veredas”.Só o exercício diário de escrever, contudo, pode servir de ponte para novos horizontes. Como defende Gabriel Garcia Márquez, escrever é transpiração.
Fiz um livro para um trabalho e inaugurei minha safra com "Procura-se um milagre" (Nova Era), em 2010, levantamento sobre minhas experiências místico-espirituais e amorosas. Já a ideia de “O útil ao agradável” (Chiado), de 2017, veio do livro “Correr”, de Drauzio Varella, inventário das maratonas que ele fez pelo mundo e me encorajou a contar minha vida de atividade física.  E se houve alguém que me influenciou foi  Haraki Murakami, com o brilhante  “Do que falo quando falo de corrida”. Já começa ousado ao repetir duas vezes um mesmo tempo verbal no título.
Ano passado, ao iniciar “A colcha escarlate” (Autografia), meu primeiro romance - que será lançado em 9 de dezembro, na Blooks de Botafogo -, experimentei a delícia de criar personagens. A história parte de uma experiência autobiográfica até virar ficção.
Agora, que volto a Ken Follet, ficou claro que foi nele que busquei a verossimilhança da trama, fundamental à realidade do jornalismo, que ainda impregna meu texto. E abusei também da sua fórmula para criar suspense. Bebi, ainda, da fonte de Yuval Harari. 
A construção dos personagens veio da quadrilogia “A amiga genial”, de Elena Ferrante. Usei sua lógica para fazê-los críveis. E, na busca de encontrar meu próprio caminho, me baseei em Mário Vargas Llosa – meu autor predileto - ao alternar histórias, em que cada capítulo termine deixando o leitor ávido pelo próximo. Será mesmo que nada se cria, tudo se copia?        

Comentários

  1. Delícia o seu texto. Fiquei honrada com a menção às minhas aulas. Beijos.

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  2. Sua competência me trouxe uma dúvida, apaixonei-me pelo seu texto ou pela sua pessoa? Seu texto vaza pelos seus olhos, foi demais para um peão do trecho!!! Durmo com texto e pessoa, ora com uma ora com outro. Detesto rotina!!!

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