Furo de reportagem
Passados um
ano, sete meses e cinco dias do brutal assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes,
cogita-se em federalizar a apuração do crime, diante dos resultados até agora pífios
obtidos pela Policia Civil e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro,
incapazes de chegar aos mandantes. A única certeza é a de que o idealizador jamais
poderia imagina a repercussão da macabra iniciativa.
A lembrança
que trago desse caso é diretamente ligada à minha vida profissional. Após uma
intensa mobilização dos coleguinhas por uma vaga no Jornal do Brasil, que
voltaria a circular no papel no início de março sob a batuta do empresário
Omar Peres, fui convidada a assumir a sub-editoria da Cidade, onde
transitei por muitos anos na década de 1980, no mesmo veículo. Após adquirir ícones cariocas como o Bar Lagoa e a Fiorentina, entre outros, foi a
vez de Catito, como é conhecido, tentar resgatar aquela que foi a maior voz da
esquerda durante a ditadura militar. A volta da direita ao poder, porém, ajudou a enterrar o sonho.
Naquela
época, estávamos diante da truculência da Intervenção Federal na Segurança
Pública, hoje vista como um espetáculo que chegava a beirar a civilidade, diante das atuais gestões federal e estadual em segurança pública.
Foi do
editor, o caro Clóvis Saint-Clair, a ideia de convidar a vereadora Marielle
Franco (PSOL) para escrever um artigo sobre o tema. Entrei em contato com sua
assessora, Fernanda Chaves – que também estava no carro no dia do assassinato -,
para encomendar o material.
O texto
demorava a chegar, eu cobrando de Fernanda e ela dizia que Marielle era ‘danada’,
por ter produzido um material gigantesco, que ela cortava para me enviar (depois
tentei em vão resgatar a íntegra, porque Fernanda se viu obrigada a desaparecer
do mapa).
O material
chegou muito tarde, na véspera do crime, o JB já estava fechado e
foi o único a veicular um texto assinado por Marielle no dia seguinte à sua
morte. Claro que ela criticava a medida – “Neste laboratório (referido-se à definição do general Braga Netto à intervenção no Rio) as cobaias são os negros
e negras, periféricos, favelados, trabalhadores...” .
Além da
tragédia por si – nunca podia imaginar o tempo que levaria a elucidação do
crime, se é que isso um dia vai acontecer –, foram emoções indescritíveis para uma jornalista, somadas ao posterior luto pelo
Jornal do Brasil não ter tido mais fôlego para sobreviver no papel.
Dois lutos , o assassinato de uma líder , negra , favelada , voz da maré na Câmara do Rj , com um futuro largo como seu sorriso e o encerramento das atividades do único Jornal descente do RJ !
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