No Rio, o céu era o limite


A atual decedência do Rio nada tem a ver com seu passado. Ruy Castro que o diga, com seu recém lançado “Metrópole à beira”, o próximo livro da minha lista. Independente da beleza natural que nenhum administrador, por pior que seja, seria capaz de destruir, a cidade esconde inúmeros tesouros de seus tempos de glória, dos quais, destaco os portões nos estilos art nouveau (1890-1920) e art déco (1910-1939), não por acaso, coincidentes com esses tempos áureos.
Capital imperial e republicana até 1960; alvo de uma grande faxina a partir de 1900 para redução de sua insalubridade, o Rio foi uma espécie de capital cultural do mundo. Era capaz de sediar, simultaneamente, o melhor balé russo e caçadas a onças na Floresta da Tijuca. Deste legado, predominante no Centro, Flamengo e Copacabana, pinço três exemplares de real valor.
Uma delas está na Praia do Flamengo 158, sede do Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho, o prédio de estilo eclético que parece saído de um filme de Harry Potter, mais conhecido como Castelinho do Flamengo. Foi o palacete do comendador Joaquin Silva Cardoso, projetado pelo inovador arquiteto italiano Gino Coppedè. Um dos pontos altos desta jóia é o portão de ferro reproduzindo uma borboleta.
Outro destaque, hoje vítima da incúria municipal, é o imponente portão – tombado em 2001 pelo Iphan – do Parque Guinle. Sob encomenda de Eduardo Guinle, o conjunto de ferro fundido inclui dois leões de bronze da fundição francesa Val d’Osne, dois anjos do mesmo material e duas esfíngeds de mármore branco, réplicas do Palácio de Versailles. O portão saiu de Paris em 1911, das forjas da Schwartz & Meurer, número 76 do Boulevard de la Villette. Atualmente, está escorado para não desmoronar, cercado pelos canteiros das intermináveis obras da Rua Gago Coutinho.   
Considerado um dos mais emblemáticos exemplos da influência nativista sobre o art déco brasileiro, a porta de ferro do Edifício Itahy, na Av. Nossa Senhora de Copacabana, 152, reúne uma miscelânia  com motivos de algas e duas tartarugas guardadas por uma sereia índia. Completa a obra uma moldura de majólica –cerâmica verde – verde. E quem entra no prédio se depara com uma portaria revestida num mosaico em tons de azul e verde, que simula as ondas do mar no piso. Naquela época, o céu era o limite da imaginação.


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