As novas famílias


Quando Leco juntou com sua primeira mulher, ela já tinha dois filhos do primeiro casamento. O casal teve outros dois. Ao nos encontrarmos e juntarmos nossos trapos, eu já tinha duas filhas. Não tivemos os nossos. Meus pais e os pais do Leco tiveram um único e longevo casamento, graças a fortes doses de paciência da geração deles. O pai das minhas filhas se casou duas vezes depois de mim e teve um filho com cada mulher. Minhas filhas estão em seus primeiros (únicos?) casamentos e ainda não tiveram filhos. O caçula do Leco passou 13 anos com a primeira namorada e juntou os trapos com a segunda, uma italiana que já tinha um filho.
O melhor dessa história começa com o primogênito dele, que entrou em sua vida afetiva com uma coleção de namoradas. Um dia o pai puxou sua orelha, chamando a atenção, justamente, para a falta de afeto naquela roda que não parava de girar.
Assim como eu e Leco, que nos reencontramos depois de estudarmos juntos no mesmo colégio, dois meses depois daquela conversa o primogênito também reencontrou uma antiga colega de escola que, coincidência ou não, como eu, já tinha dois filhos. Nesse caso, meninos. Os dois se apaixonaram e marcaram a união com um emocionante casamento selado por Frei Betto, amigo da família. Aliás, em dois anos de vida em comum, eu e Leco também fizemos uma linda cerimônia na igrejinha do Bonfim.
O mais velho, porém, fez uma exigência. Assim como seu pai, que já tinha passado duas vezes pelo mesmo, topava criar os meninos, contanto que fizessem o seu. Impaciente, Leco – ao contrário de mim, de família que sempre valorizou o papel dos avós -, cobrava a chegada do neto. Chegou a ameaçar adotar um, para o casal criar. Assim mesmo, um neto, Uma neta não passava por sua cabeça.
Foi o que aconteceu, quando há cinco anos ela nasceu. Gradativamente, a menina foi enlouquecendo o vô. Além da personalidade forte e decidida, mesclada por uma doçura de mel derretido, a cada dia ela fica mais linda. E se há um defeito nisso tudo é o fato da família morar em Ubatuba, onde encontrou a perspectiva de uma vida mais próxima da natureza, com um saldo bem mais positivo em termos de vida urbana.
Enquanto isso, faço meu treinamento – por enquanto, à distância – para avó. Não vejo a hora das minhas filhas me darem mais essa alegria, porém, assim como meus pais fizeram comigo, respeito o tempo delas e sei que vão decidir quando chegar a hora. Uma coisa é certa: as novas famílias encontraram novas, e até mais aprimoradas, fórmulas para se perpetuarem. Com base na mesma receita: muito amor.


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