O revival do Largo do Boticário

Em junho de 2018, a rede francesa AccorHotels convocou uma entrevista coletiva para tornar público seu projeto de repaginar o Largo do Boticário. A ideia era arrojada. Depois de adquirir seis casas do local por R$ 20 milhões, seriam feitos investimentos – próprios, sem incentivos fiscais – de R$ 30 milhões, para fazer ali uma espécie de selo da rede, a Joe&Joe. Trata-se de um espaço aberto de convivência voltado ao público jovem, sem descartar os coroas, com 350 camas em 70 quartos e capacidade para 300 pessoas.
Só que, até gora, tudo continua como antes no quartel de Abrantes. O escritório de arquitetura Ernani Freire & Associados, responsável pelo projeto, informa, porém, que a concorrência deve ser finalizada em dezembro e as obras estão previstas para começar em janeiro. Se antes a previsão de conclusão do projeto era para o segundo semestre de 2020, o prazo deve se prolongar por mais um ano e meio.
Para quem achou, portanto, que tudo não passava de balela, a esperança ainda existe, com fortes doses de ambição. Elas incluem a criação ali de um novo ponto turístico, o que não seria nem um pouco improvável para um lugar vizinho ao acesso do nosso mais importante cartão postal, o Cristo Redentor, no Cosme Velho.
Conforme o historiador Nireu Cavalcanti, o largo, hoje decadente e abandonado, seria um projeto do boticário Joaquim Luís da Silva Souto, que vendia a água ferruginosa do Rio Carioca, coletada em uma bica em frente ao último prédio da Rua Cosme Velho. Joaquim, que tinha entre seus clientes a família real, prosperou e criou o primeiro empreendimento imobiliário da cidade adequado ao meio ambiente, sustentado e ecológico, batizado de Largo do Boticário. Anos depois, as casas foram vendidas pelos herdeiros a adquiridas pela excêntrica Sylvia Botelho Bittencourt – casada com Paulo Bittencourt, herdeiro do jornal “Correio da Manhã.
Sylvia encomendou um projeto a Lúcio Costa, que modificou as fachadas, sem alterar a concepção original, e usou material de demolição, cujo resultado foi um conjunto neocolonial, com elementos da arquitetura eclética. O cenário inclui o suave remanso do Rio Carioca, embora fétido e poluído, e a vegetação de Mata Atlântica. O sublime conjunto tem tudo para voltar ainda melhor do que foi.       

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