Adeus à decadência
Quando me mudei para Laranjeiras, em 1980, o Largo do Machado era um antro, por onde poucos
se arriscavam a passar. Não tenho o registro preciso de quando isso aconteceu:
a mudança começou pela ocupação do espaço pelos quiosques de flores e presença policial.
Mudou para melhor. O largo foi assim chamado por conta de André Nogueira Machado,
proprietário de terras na região, batismo reforçado pelo açougueiro de
sobrenome Machado, que ornou a fachada de seu estabelecimento com um potente machado.
Hoje não seria
exagero compará-lo a Montparnasse (só faltam Sartre e Simone de Beuvoir...),
sobretudo depois da chegada da nova filial da padaria-bistrô de nome francês, que
ocupou o local antes de um restaurante decadente. As fachadas
originais de estilo eclético foram restauradas e logo chegou a vizinhança de um hortifruti e outros charmosos bares,
que mais uma vez confirmam a máxima: ocupar para revitalizar.
Especialmente agora, sob o perfume da floração dos abricó de macaco (Couroupita
guianensis).
A bela fachada da escola estadual Amaro Cavalcanti, em seus
tons salmão, mandada construir por Pedro II, testemunha tempos imperiais. De lá para cá, as mudanças oscilaram, do auge à decadência que, ainda bem, volta ao rumo
ascendente.
Tem de tudo lá, do comércio ambulante aos melhores
consultórios médicos, sem falar em feiras de livro, shows ao vivo e
performances, temperadas com jeitão de cidade do interior.
E é a inciativa privada quem segura essa peteca, enquanto a
prefeitura dificulta sempre que possível, como foi na época da inauguração da padaria-bistrô, em dezembro, cuja
varanda respirava esgoto. Enquanto a Igreja da Glória - com seus sinos
que badalam as horas - passa por reformas, o chafariz permanece seco, no auge do
verão. Coisas do nosso bispo alcaide que não chegam a ofuscar o cenário.
Vou procurar a padaria bistrô que não reparei existir.
ResponderExcluirSeus olhos são de quem vive em mente atenta, pelo menos assim me parece. Beijos