Assim é se lhe parece
Um dia, já passava dos 33, duas filhas amamentadas,
troquei de roupa junto a jovens colegas do Jornal do Brasil e constatei: estou um
bocado passada, ao observar aqueles seios ainda rígidos. Anos depois, já na
Revista Isto É, depois dos 40, me conformava em ver as fotos de Vera Fischer,
alguns anos mais velha que eu, esbanjando beleza já na fase dos “enta”. Ao
mesmo tempo, buscava uma maturidade, como pessoa e também no meu texto, que custavam
a chegar. Ainda no meu primeiro casamento, imaginava que o tal
amadurecimento nunca chegaria, até porque minha vida era careta demais,
convencional demais. Aí vieram a separação, seguida de uma traição que me tirou
o rumo, a urgência de criar duas filhas com o salário medíocre de jornalista e,
nada. Nada da tal maturidade, enquanto as rugas já davam o ar da sua graça.
Quando cheguei à faixa dos 50, a famosa meia idade, senti
que o envelhecimento me perseguia, embora ainda não tivesse chegado de fato. O
amadurecimento era inevitável, porém, ainda me movia por uma força vital
desproporcional à faixa etária tão avançada, como eu a via. Vieram a menopausa,
com um ressecamento dos fluidos que eu sequer imaginava que existisse, a
insegurança profissional de uma sociedade que crucifica o passar dos anos e a
maturidade começou a se manifestar, finalmente, com força cada vez maior. Ela
chegou, constatei, enquanto seguia na luta pela sobrevivência, no segundo e
terceiro livros que alinhavei e lancei, já passando dos 60.
A essas alturas, já
tinha retomado as corridas que interrompi antes dos 40, por acreditar que seria
um acelerador do meu processo de envelhecimento, que chegou, inevitável. Porque a
alternativa seria péssima. Agora, constato que os 63, definitivos na entrada da
terceira idade, em breve me darão outra aparência. E assim como aos 30 e
poucos, aos 40 e 50 me julguei uma coroa, quando chegar aos 70 vou achar que era um
broto aos 63. E assim será, daí em diante. Como poderia ter sido no passado. A idade
está na cabeça e no julgamento social. Agora, o que somos de fato, só cabe a nós.
Posso ser uma menina aos 80, assim como uma velha aos 30. A melhor idade só
depende de nós.
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