Oito dias no Xingu
Lagoa à beira da Aldeia Kamayurá
Após falar dos assédios que sofri nos tempos de repórter, agora é a vez de lembrar a experiência que me deixou profundas marcas: os oito dias que passei na aldeia dos índios Kamayurá, no Xingu. Escreveria sobre a festa Yamarikumã, em que as índias praticam os rituais masculinos, para a Revista de Domingo do Jornal do Brasil.
Após falar dos assédios que sofri nos tempos de repórter, agora é a vez de lembrar a experiência que me deixou profundas marcas: os oito dias que passei na aldeia dos índios Kamayurá, no Xingu. Escreveria sobre a festa Yamarikumã, em que as índias praticam os rituais masculinos, para a Revista de Domingo do Jornal do Brasil.
Foi a
primeira e única vez em que fui a Brasília. Combinei esperar o antropólogo às
7h no hotel, próximo à Praça dos Três Poderes. Duas horas depois, soube que o
avião bimotor que nos transportaria passava por reparos e o voo só sairia no dia seguinte.
Já no aeroporto, acompanhei o voo experimental do avião, com a equipe
da Escola Nacional de Saúde que iria vacinar os índios. Decolamos e
sobrevoamos uma densa mata até pousar em São Felix do Araguaia, para reabastecer.
Lá, descobrimos que o óleo tinha vazado e precisaríamos dormir na cidade, até o conserto do avião. Passamos uma agradável tarde regada à
cerveja no generoso Rio Araguaiua.
Quando
pousamos no Xingu, cercados por uma pequena multidão de alegres indiozinhos
pelados, ouvi do antropólogo que já estava lá há dias: “Que pena, você perdeu a
festa, foi linda!”, enquanto subia no mesmo
avião que o levou de volta à civilização.
Daí em
diante foram oito dias dormindo na rede, comendo peixe fresco com pacu e tapioca
no café da manhã. Poucas índias falavam português e tive longas conversas com o
cacique, seu filho e o pajé. Quando foi me mostrar uma roça de mandioca, o
cacique contou de um alemão que estivera ali há anos e fez muitas promessas,
nunca cumpridas. “Foi aqui mesmo que capei ele”, disse com naturalidade, gesto de foice.
Assustada,
fui convidada em seguida a participar de uma festa, para a qual meu corpo seria
pintado por uma índia. Estava de biquíni e quando a pintura lateral da perna chegou à altura do quadril, ela me disse: agora você tem de tirar essa peça para eu
terminar a pintura”. Fiz isso e me senti estranha só com a parte de cima do
biquíni. Resolvi tirar tudo.
Grande
erro, conforme me disse depois o antropólogo. Os índios sabem muito bem onde
começam e terminam nossos costumes e, além do mais, ninguém por ali tem pelos
pubianos, o que aumentou minha sensação de estranha no ninho. Totalmente desconfortável, segui para a casa
dos homens, no centro da aldeia, onde os índios repetiam: cacique (o mesmo que capara o alemão) quer
casar Celina!
Gelei. Corri para me vestir. Participei da festa, marcando a dança com o bater dos pés
na terra, como os demais. Sensação de pertencimento, enquanto torcia para que o desnecessário episódio caísse no esquecimento.
Passei então a caçar uma pauta que justificasse a viagem. E achei: o projeto que eles votariam para criar pacotes turísticos a endinheirados, que ajudassem na sustentabilidade da aldeia.
Passei então a caçar uma pauta que justificasse a viagem. E achei: o projeto que eles votariam para criar pacotes turísticos a endinheirados, que ajudassem na sustentabilidade da aldeia.
Voltei com
a real compreensão da diferença abissal entre nossas culturas, admirando aquele
estilo de vida tão fiel às suas crenças - capaz de manter a mata em pé - e às
tradições que ainda sobrevivem nesses mais de 500 anos, tão ameaçada por esses
bolsomínions que teimam em exterminar os índios e queimar a floresta.
Pinturas corporais como a que índia fez em mim
Tribo reunida em seus rituais
Os que aqui estavam qdo os portugueses chegaram continuam sendo dizimados
ResponderExcluirQue dor !