Verão da geosmina

Existe uma explicação para essa água intragável que a Cedae nos tem empurrado goela abaixo. Ao tomar posse, o governador – o mesmo que liga ao vice-presidente, grava a conversa e põe nas redes sociais e diz que é para atirar na cabecinha -, indicou o pastor Everaldo para controlar a estatal. Ambos são do mesmo Partido Social Cristão (PSC). O pastor, por  sua vez, indicou à presidência Hélio Cabral, cuja missão é sucatear a Cedae para que ela seja privatizada e honre o empréstimo contraído dos  franceses no governo Pezão, a quem Helio Cabral também serviu, com vencimento em dezembro.

Cabral – por coincidência, sobrenome mais sujo que pau de galinheiro – demitiu no ano passado 54 engenheiros de carreira que cuidavam, entre outras coisas, da qualidade da água fornecida pela Cedae. Embarreirou, ainda, projetos que poderiam melhorar a qualidade da nossa água, sob o pretexto de falta de verbas. Só que o lucro da empresa no ano passado foi de R$ 800 milhões. Já Witzel diz que as obras necessárias para a recuperar dos poluídos rios que enchem de esgoto o Guandu só podem ser feitas mediante o leilão da privatização.

Este mesmo Cabral também dirigiu a Samarco, empresa responsável pela tragédia de Mariana (MG), e chegou a ser indiciado pelo ministério público por conhecer os riscos de rompimento da barragem e simplesmente ignorá-los. Mal sabia ele que tanta malvadeza seria beneficiada por outra, o rompimento da barragem em Brumadinho, ainda mais letal que a anterior.

Dessa vez, ao invés de mortes, vivemos a proliferação da geosmina que, além de emprestar um sabor insuportável à água que bebemos, ainda atrai a fêmea do mosquito aedes aegypti, que transmite a dengue. E, para completar, quando começamos a viver esse drama da água, Witzel foi fazer um curso com o Pateta, na Disney, e preferiu não abandoná-lo a resolver o abissal problema que criou. Sim, porque de quem foi a ideia de convidar o pastor Everaldo para cuidar da joia da corôa de nosso estado? E ainda fechou os olhos ao nome escolhido para a presidência da Cedae.

Crônica de uma tragédia anunciada.