Tardia reparação


Uma das coisas que mais me impressionou quando li o primeiro volume de “Escravidão”, de Laurentino Gomes, foi me dar conta de que o tráfico de escravos – além da sordidez inerente àquele tipo de comércio – foi a grande commoditie do século 16 ao 19. Dos comerciantes da próspera Veneza aos banqueiros europeus, todos se locupletaram com o tráfico negreiro. Agora, para minha agradável surpresa, começam a apontar no horizonte os resultados do Comitê Suíço de Reparação da Escravatura (SCORES), criado no fim de 2019.
Embora não seja uma posição oficial do governo, que não reconhece o país como uma potência colonial, o historiador Hans Fässler, líder do grupo, defende que empresas, cidades, mercenários e banqueiros tiraram grande proveito do esquema. O trabalho do grupo focou, inicialmente, no tráfico de pessoas para o Caribe, com o objetivo de retribuir com pagamentos o benefício obtido pelo trabalho escravo nas ex-colônias, do qual, estima-se que a Suíça participaria com entre 4% a 5% do investimento europeu naquela região.
Os movimentos de Fässler se sustentam na grande rede de apoiadores formada em poucas semanas após a criação da SCORES, integrada por artistas, teólogos, religiosos, ex-juízes e ainda pelo ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Europeu, Dick Marty.
Os trabalhos vão começar pela reparação aos países caribenhos, contudo, pesquisas  indicam que os banqueiros suíços não apenas financiaram o tráfico ao Brasil e à América Latina, como, claro, se enriquecerem bastante com ele. Impressiona  como grande parte dos imponentes palácios de cidades suíças foram erguidos, justamente, a partir dos lucros obtidos com o tráfico de escravos.
Os banqueiros suíços financiaram a cruel engrenagem iniciada pelos barcos europeus que seguiam para a África carregados de produtos têxteis, trocados por seres humanos nas costas africanas. Os escravos eram embarcados rumo às Américas nesses mesmos navios, em expedições que podiam levar até dois anos até retornarem à Europa. Famílias de banqueiros suíços como Weiss, Burckhardt, Favre e Rivier bancaram várias dessas macabras expedições. Já existem estimativas de que mais de cem expedições foram financiadas por estes banqueiros entre 1773 e 1830.
 Antes tarde do que nunca, porém, nunca é demais perguntar: quando Portugal vai se dignar a fazer o mesmo? 
  
  

Comentários

  1. Acredito que ainda não caiu em si,nao havendo necessidade retratação

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  2. Acredito que ainda não caiu em si,nao havendo necessidade retratação

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  3. Ouvi um comentário interessante e verdadeiro a este respeito:
    - Portugal repassava para a Inglaterra muito do que lucrava na colônia Brasil.
    Daí que o reparo tem ramificações e raízes profundas .
    Mas bom que tenha um começo!

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