Meu primeiro panelaço


O primeiro panelaço a gente não esquece. Às vésperas do impeachment  de Dilma Roussef, ouvi da minha janela, em Laranjeiras, a sinfonia metálica de protesto sobretudo do Pereirão, comunidade vizinha à minha casa. Votei duas vezes no Lula, uma em Dilma, porém, não sou petista. Embora não estivesse satisfeita com aquela gestão e me revoltasse com a roubalheira, não me senti motivada a aderir. Dessa vez foi diferente, bem diferente. Em meio a uma sucessão de indignações diante do despreparo do homem eleito para presidir o país em quem não votei – a provocação ao Legislativo e ao Judiciário no ato de domingo; posições sobre desmatamento, morte de índios, misogenia e imprensa, entre outros -, ele extrapolou ao expor à contaminação mais de 200 manifestantes do último domingo, sem ter sequer o resultado de seu exame. O desleixo com que tem tratado a pandemia é mais que motivo  de impeachment, como quer até sua ex-aliada, Janaína Paschoal.
Recebi a convocação de vários amigos para acionar minhas panelas para fim não alimentar, e sim a alma. Antes das 20h já comecei a ouvir gritos esparsos de “fora Bolsonaro”. Passei então a batucar a panela e a repetir o mesmo mantra. No início do “Em pauta”, na Globonews, único programa que assisto na televisão, já passava das 20h quando apareceram os panelaços pelo Brasil afora, nas capitais e bairros de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Voltei à janela e aderi, a plenos pulmões. Notei que a adesão foi maior nos prédios de classe média, prováveis eleitores do presidente que começam a mudar de lado.
A reação se intensificou enquanto Bolsonaro dizia – ao lado dos presidentes do STF, do Senado, da Câmara e do bravo ministro da Saúde, Mandetta, todos mascarados – que já enfrentamos situações muito mais graves - quais, cara pálida? –, e o que existe é uma histeria. Nem uma palavra de solidariedade às famílias dos quatro – até ontem - mortos pela doença, ou aos profissionais de saúde que arriscam suas vidas para salvar as vítimas do Covid-19. 
E, ao que tudo indica, o presidente terá de se submeter a mais um teste, já que o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional -, com quem Bolsonaro despacha dia sim e outro também, teve resultado positivo para o coronavírus. 
Enquanto o mundo desaba, Jair justifica seu comportamento errático como uma forma de se aproximar do povo. E botar a vida em risco todos em quem tocou? Que falta faz um estadista, como Macron, Ângela Merkel e até Trump - ídolo de Bolsonaro - numa hora dessas!   
Todos mascarados na coletiva, contra normas sanitárias
  

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