Robôs cheios de TOCs



Tenho visto muitas comédias espanholas nessa quarentena. Algumas ótimas, outras, nem tanto. Ontem foi a vez do divertido “Toc Toc”, de Vicente Villanueva. Nem os ótimos atores ou o diretor faziam ideia do quão premonitório seria o filme, de 2017. Cinco personagens com transtornos obsessivos compulsivos (TOC) – termo popularizado por aqui pelas  manias de Roberto Carlos - se encontram no consultório de um psicanalista. Cada um mais obsessivo que o outro.
A sedutora Bianca é a que nos cabe. Ela tem pavor à contaminação por bactérias, vírus e afins e, a cada contato com alguém ou com uma simples maçaneta, desanda a lavar as mãos compulsivamente. Bianca exibe a mesma prática ensinada pelos vídeos que circulam pelas redes, ensinando a lavar as mãos para não dar chances à contaminação. Ela esfrega uma palma contra a outra, usa os dedos de cada mão para higienizar o espaço entre os mesmos, capricha nos polegares e extremidades. Quem ali poderia imaginar que essa viraria uma rotina em 2020?
E com todas as informações preventivas que recebemos nossa vida vai virando uma sucessão de manias. Lavar as mãos, passar álcool gel, lavar as roupas e sapatos sempre ao voltar para casa, higienizar as sacolas de supermercado, lavar as latas com água e sabão, caprichar na higienização da casa e, sobretudo, ficar de quarentena. Enfim, uma sequência de exigências capazes de transformar qualquer um em robô, senão num TOC.
De tudo que tenho recebido, entre uma maioria de informações catastróficas, uma tem sido bastante útil. São as quatro dicas do psicólogo  Gabriel Pinella para não enlouquecer.
Quem me conhece sabe do meu hábito de madrugar e sair para correr. Tenho ouvido amigas da minha faixa etária, acima dos 60, que confessam saidinhas “para não pirar”. E com aval da minha filha médica, ao invés das corridas de 8 km pelo Aterro ou pela Pista Cláudio Coutinho, tenho caminhado bem cedo pelas ladeiras nos meus arredores, atenta aos perigos das ruas desertas. Com isso, pratico um dos pilares sugeridos por Pinella: manter a rotina, para organizar o mundo interno. Os outros três:  higienizar a casa, lembrando que as tarefas domésticas também são um trabalho; usar a tecnologia para se comunicar e abrir o coração e, por último: não perder o bom humor, porque a angústia fragiliza o sistema imunológico. O melhor, porém, é que tudo vai passar.  
Bianca e suas mãos
   

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