Parece, mas não é

O bufão mor
Na semana em que o país atingiu os 100 mil óbitos pelo coronavírus, muito além dos 60 mil estimados pela Administração, a pandemia tem atacado sobretudo os pobres e negros. No início da crise sanitária, em 18 de janeiro, o secretário (ministro) da Saúde tenta pela primeira vez abordar a pandemia com o presidente, que prefere falar sobre cigarros eletrônicos. No mesmo dia, o então diretor da Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado, hoje afastado pelo presidente, pede a criação de um grupo coordenado de resposta ao coronavírus. Resposta: “Isso não é urgente.”
No início de fevereiro, a equipe de saúde pública recomenda o fechamento de colégios e negócios nos pontos mais agudos atingidos pela pandemia e sugere a recomendação para a distância física e a adoção do teletrabalho. Os especialistas levam três semanas para convencer o presidente das terríveis consequências por não agir rapidamente.
Em 23 de abril, em meio à pior pandemia dos últimos séculos, com mais de 23.000 mortos, o presidente sugeriu, diante dos jornalistas, o uso de injeções de água sanitária. “Vejo o desinfetante, que nocauteia o vírus em um minuto. Há alguma maneira de podermos fazer algo assim mediante uma injeção?”, especulou.
O presidente negou a crise por semanas e chegou a dizer que desapareceria como “um milagre” (27 de fevereiro) e a equiparou à gripe comum (9 de março). Nos dois meses seguintes, deu informações erradas sobre vacinas e tratamentos, ainda contradisse publicamente todos os seus especialistas e suas próprias recomendações. Entre elas, a de estimular o país a retomar sua atividade no domingo de Páscoa, quando incentivou manifestações mais agressivas contra o confinamento, afirmou que não pretendia usar máscara e se desentendeu com governadores. Intensificou seus ataques à imprensa e revelou que estava tomando  a hidroxicloroquina, mesmo sem estar doente.
Bolsonaro? Parece, mas não é. O presidente em questão é o ídolo maior de Bolsonaro, Donald Trump, cujo comportamento errático contribuiu para seu país assumir a liderança da pandemia. Aqui foi tudo meio parecido, pior, porém. Trump não demitiu dois ministros da Saúde ou o da Justiça no auge da crise, também não ameaçou a alta corte americana e não participou de manifestações anti-democráticas, sem máscara. Aqui, por sua vez, não houve saída da OMS, embora o governo não acate suas sugestões científicas. Lá, como cá, foi preciso abrir covas rasas para dar conta dos óbitos.
Covas rasas abertas em Nova York
Não por acaso, somos os segundos no nefasto ranking dos países mais atingidos pelo coronavírus, atrás dos EUA. E caminhamos para receber o troféu mundial de piores no combate à  Covid-19. Bolsonaro já foi eleito pela imprensa internacional como pior gestor da pandemia no planeta.
Covas rasas na capital São Paulo





Comentários

  1. "Do mal será queimada a semente"- lembrei da música de Nelson Cavaquinho como um alento em meio ao caos em que a nação brasileira está submetida.
    Mas vamos virar o jogo, pois "a luz há de chegar aos corações ".

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  2. Incrível como os imbecis se aglutinam.

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