A ascensão da extrema direita
Gianroberto Casaleggio |
Ao contrário do que já escrevi aqui, Steve Bannon não foi o
culpado pelo Brexit. Sua atuação limitou-se às eleições de Trump e Bolsonaro.
Tudo começou com o italiano Gianroberto Casaleggio (1954-2016), engenheiro de
software, no fim dos anos 1990. Jeitão de hippie californiano, o milanês era
CEO da Webegg, joint venture da Olivetti e Finsiel, fascinado
pela cultura do Vale do Silício.
As intranets – redes internas das grandes companhias – foram a
primeira fonte de inspiração de Casaleggio. Repositório de informações
institucionais, essas redes também abrigavam conversas, muitas vezes emocionadas.
E foi assim que o milanês começou seu experimento social, na tentativa de
construir consensos.
O método consistia em um
funcionário da Webegg publicar um post com um tema em debate, enquanto outros
engrossavam o caldo com suas opiniões. Após um grande número de
envolvidos, a equipe de Casaleggio arrematava o post com uma "avalanche de
consenso", ou, muitas vozes direcionadas a uma mesma conclusão. Assim, sem precisar de multidões, foi descoberta
a fórmula para manipular a formação de consensos no meio digital, já que um mesmo indivíduo com várias contas pode parecer
muitas pessoas.
Beppe Grillo |
Outro italiano, o genovês Beppe
Grillo, de 1948, era famoso no fim dos anos 1970 como um ácido comediante que mesclava
stand-up e música no seu violão. Direcionava seu humor aos políticos e grandes
empresas, com piadas recheadas de denúncias. Grillo e Casaleggio se conheceram em
2004 e logo o blog, Beppegrillo.it, alavancado pelas técnicas do milanês, virava sucesso mundial.
Casaleggio sabia que as redes são
formadas por nós, ou indivíduos, e conexões, sendo que um nó se conecta a
outros. Quanto mais conexões um nó tem, mais novas conexões. Quanto
mais gente segue, mais gente o seguirá. Grillo fazia discursos públicos com
frases de efeito, pílulas de ideias, transformadas em vídeos curtos de fácil
viralização. O mesmo conceito se deu na formação de slogans, os memes de hoje,
para divertir e canalizar a indignação da
sociedade italiana, assim como a brasileira, descrente de seus governantes.
Era necessário criar uma nova percepção de realidade e sugerir uma
solução externa a partir das ferramentas digitais para formar comunidades: a velha democracia liberal, em oposição a uma nova democracia digital, na qual o
povo manda; a velha e desacreditada mídia perante a nova mídia, ou ‘a voz do
povo’. A tal avalanche de consensos foi turbinada pelos robôs, sendo as fake news maquiavélicas ferramentas
para manipular a formação desses consensos.
Casaleggio morreu de câncer no cérebro, rompido com Grillo. Seu
método de fazer política encontrou, porém, observadores atentos, como Nigel
Farage, no Reino Unido, que assina o Brexit, e Steve Bannon, nos EUA,
responsável pelas eleições de Trump e de Bolsonaro. E foi assim que começou o
pesadelo da ascensão da extrema direita ao poder no mundo. (Fonte: site Meio).
Acima, Steve Bannon com Eduardo Bolsonaro, abaixo, Nigel Farage |
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