Guerra da persuasão
João Cezar de Castro Rocha |
Essa guerra
de persuasão, que ainda não pegou em armas (a não ser pela liberação do acesso
a elas promovida pelo presidente) se sustenta em três pilares, também apoiados
pela conexão entre Steve Bannon e Eduardo Bolsonaro: uma tradução insensata da Doutrina
de Segurança Nacional da Guerra Fria, que justificou assassinatos,
perseguições e tortura pela ditadura militar brasileira. Em segundo vem o livro “Orvil” (livro ao
contrário), que inspirou os generais Mourão, Augusto Heleno e o próprio
Bolsonaro a assumirem uma revanche ao que consideram uma constante tentativa de
criar aqui uma ditadura do proletariado, uma China Tropical, que identifica o
comunismo como inimigo, quando a própria China já vive um sistema notoriamente
capitalista.
E por
último os princípios 'filosóficos’ de Olavo de Carvalho, para quem as elites brasileiras querem
impor o comunismo para demolir as bases da civilização cristã. Olavo deu ao acéfalo bolsonarismo uma
linguagem: a retórica do ódio. Um exemplo foi o ataque de bolsonaristas aos enfermeiros
que protestavam contra a atuação do governo federal na pandemia, classificados
por eles de “analfabetos funcionais”, expressão bem ao paladar do guru do clã.
A técnica
de Olavo, conforme Castro Rocha explicou em entrevista ao jornal O Globo, é
confundir hegemonia com doutrinação. “Não existe doutrinação, pois não existe
um centro onde essas ideias são impostas”, defende. Assumidamente de esquerda,
o especialista frisa não ser favorável a nenhum tipo de domínio sobre a
cultura. “É importante que existam modificações e tensões constantes, de modo
que nenhum grupo possa se sentir confortável. As constantes tensões
potencializam a arte”, ele diz, e eu acrescentaria a essa última frase, a
democracia.
A nefasta estratégia bolsonarista se traduz nas nomeações de alguém que nega Zumbi para a Fundação Palmares, de
uma blogueira turismóloga para gerir o mais importante órgão de patrimônio nacional, o
Iphan, ou um ministro do Meio Ambiente abertamente favorável ao desmatamento. É
nessa encrenca que fomos nos meter, até quando?
Criador e criatura |
Fora Bolsonaro!
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