Pandemônio no reino animal

Quando Romeu e Goiabimha conseguiram formar uma família
O Parque Guinle volta a protagonizar um drama shakesperiano. Há duas semanas a cisne Goiabinha chocava três ovos e se aproximava a hora em que mamãe e papai – o cisne Romeu – curtiriam sua segunda ninhada de filhotes. Há dois dias, porém, tenho visto Goiabinha de volta ao lago, sem nenhum filhote à vista.
Goiabinha chocando a futura prole
Ontem o mistério foi desfeito: a diligente voluntária - membro do grupo Abraças Aves, criado pela aposentada Nedina Levy, que viabilizou a volta do Parque Guinle à população -, que diariamente alimenta as dezenas de aves que vivem ali, me contou: “Foi coisa programada, de criadores. Roubaram os ovos de madrugada e eles terminarão em uma chocadeira, para serem vendidos a preço de ouro”, lamentou. Tragédia silenciosa.
O drama começou há dois anos, quando Julieta, a fêmea de Romeu, foi morta a pauladas pelo dono do cachorro que a atacou. O casal já havia tido filhotes e foi Goiabinha, marinheira da primeira cria, quem substituiu a própria mãe. Sim, porque, ao contrário das tragédias de Shakespeare, como Hamlet, não existe incesto no reino dos cisnes. Tanto que os descendentes do casal original – o batismo Romeu e Julieta, na verdade, não se inspirou no bardo, e sim em goiabada com queijo, daí também o nome Goiabinha, o biscoito recheado – quanto do pai e da filha, seguiram para outros destinos, como o Palácio do Catete e o espaço de um criador de Guaratiba que faz uma espécie de intercâmbio com o Parque Guinle.
Como o parque fica na rota da minha caminhada aos primeiros raios de sol, acompanhei de perto todas as etapas dessa gestação. Vi Romeu, dedicado, ajudando Goiabinha a fazer seu ninho; observava a dedicação da mamãe, com o calor de seu corpo e toda a paciência do mundo para gerar vida aos descendentes, sem arredar o pé dali.
Como ela terá se sentido quando, ao invés de ver os pequenos cisnes quebrando a casca dos ovos para nascer, todos desaparecerem como por encanto. E como deve sido a dor de Romeu quando sua parceira sofreu um ataque que a levou à morte? Nunca saberemos. Se os cisnes não se importam com o incesto – certamente a biologia dessa espécie nunca deve ter passado pelos danos da consanguinidade -, eles são monogâmicos convictos. Romeu só trocou de parceira depois que ficou viúvo.
Em meio à catástrofe que vivemos com a pandemia do coronavírus, essa história não passa de uma gota no oceano. Mais uma manifestação, porém, da ruindade do homem, capaz de tal malvadeza. Pior, só mesmo  esse presidente que não está nem aí para a vida humana. Ou um governador capaz de roubar respiradores em plena pandemia. Duvido que Shakespeare fosse capaz de criar uma trama tão inacreditável quanto a que vivem os brasileiros e fluminenses. Até quando?
Romeu e Goiabinha: vida que segue
     

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