Ações dizem mais que mil palavras


O holandês Jan Erik Saugestad, líder dos investidores internacionais

“Defendemos que critérios de redução das emissões e do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera, e de resiliência dos impactos da mudança do clima, sejam integrados à gestão da política econômica.” O trecho não é de autoria de algum ambientalista xiita e comunista. Ele integra a carta escrita por ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, entre eles Bresser Pereira, Mailson da Nóbrega, Rubens Ricúpero, Henrique Meireles e Joaquim Levy, entre outros.

Armínio Fraga, ex-comandante do Banco Central na gestão FHC, lembrou ainda no documento que as mudanças climáticas podem ser devastadoras para o agronegócio, uma das bases eleitorais de Bolsonaro, que já começa a espernear.

Enquanto o desmatamento cresceu 34% nos primeiros cinco meses de 2020, o ministério da Economia tentou desconversar, aldegando que o recorde de junho foi “conjuntural” e ainda precisaria ser confirmado. Quem sabe foi o que motivou mais uma demissão no Inpe essa semana? ”Não se deve confundir movimentos conjunturais de curto prazo com políticas de governo de efeitos mais duradouros”, reagiu ainda o ministério, com pouco crível convicção.

Nesse meio tempo não se ouve falar de Ricardo Salles – que faz tudo o que seu chefe mandar (nesse momento calado) -, homem que legitimou a motosserra para deixar a boiada passar. E a discussão que deveria ser travada sobretudo no ministério do Meio Ambiente resvala para a Economia, pelos nefastos efeitos diante dos investidores internacionais e das fortes dores que poderão provocar no bolso do país.

Ontem, depois de se reunir com o vice-presidente Hamilton Mourão, 27 gestores internacionais recorreram virtualmente ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em mobilização pró-Amazônia. Em pauta, o projeto de regularização fundiária, codinome ‘PL da Grilagem’, a que mais preocupa o grupo. Se eles parecem não ter se animado com as promessas de Mourão, teriam respirado mais aliviados ao ouvir que os parlamentares não votarão questões ligadas ao Meio Ambiente que possam prejudicar a imagem do Brasil. Entre eles, gigantes como o fundo de pensão norueguês KLP, a britânica Aviva e a holandesa Robeco. Juntas a outras 34 gestoras internacionais, administram US$ 4,6 trilhões, cujo maior temor é o aumento do desmatamento no Brasil.

“Dado o avanço recente, ações falam mais que mil palavras”, resumiu o líder da ofensiva, o holandês Jan Erik Saugestad. Pelo bem ou pelo mal, hoje tem mais uma reunião do Conselho da Amazônia.

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