Carta ao povo de Deus
E para quem ainda possa ter alguma dúvida
sobre com que Bolsonaro fez um pacto, pinço aqui alguns dos principais trechos
da “Carta ao povo de Deus”, assinada por 152 bispos da CNBB”:
"Somos
bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão
com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, que no exercício de sua missão evangelizadora,
sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Escrevemos esta
Carta ao Povo de Deus, interpelados pela gravidade do momento em que vivemos (...)
Não
temos interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer
outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus (...) O Brasil
atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, comparado a uma
“tempestade perfeita” que, dolorosamente, precisa ser atravessada. A causa
dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um
avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os
fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da
República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise
política e de governança.(...)
Somos
convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação
dos grandes desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais
vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e
violenta. (...) As escolhas políticas que nos trouxeram até aqui e a narrativa
que propõe a complacência frente aos desmandos do Governo Federal, não
justificam a inércia e a omissão no combate às mazelas que se abateram sobre o
povo brasileiro.
Mazelas
que se abatem também sobre a Casa Comum, ameaçada constantemente pela ação
inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores, latifundiários e outros
defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos humanos e os da mãe
terra. “Não podemos pretender ser saudáveis num mundo que está doente. As
feridas causadas à nossa mãe terra sangram também a nós” (Papa Francisco, Carta
ao Presidente da Colômbia por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente,
05/06/2020).
(...)
Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam
naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela covid-19,
tratando-o como fruto do acaso ou do castigo divino, o caos socioeconômico que
se avizinha, com o desemprego e a carestia que são projetados para os próximos
meses, e os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer
preço.(...)
O
desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece.
Esse desprezo é visível nas demonstrações de raiva pela educação pública; no
apelo a ideias obscurantistas; na escolha da educação como inimiga; nos
sucessivos e grosseiros erros na escolha dos ministros da educação e do meio
ambiente e do secretário da cultura; no desconhecimento e depreciação de
processos pedagógicos e de importantes pensadores do Brasil; na repugnância
pela consciência crítica e pela liberdade de pensamento e de imprensa; na
desqualificação das relações diplomáticas com vários países; na indiferença
pelo fato de o Brasil ocupar um dos primeiros lugares em número de infectados e
mortos pela pandemia sem, sequer, ter um ministro titular no Ministério da
Saúde; na desnecessária tensão com os outros entes da República na coordenação
do enfrentamento da pandemia; na falta de sensibilidade para com os familiares
dos mortos pelo novo coronavírus e pelos profissionais da saúde, que estão
adoecendo nos esforços para salvar vidas.(...)O momento é de unidade no
respeito à pluralidade! Por isso, propomos um amplo diálogo nacional que
envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais,
homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à
Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, com ética na política,
com transparência das informações e dos gastos públicos, com uma economia que
vise ao bem comum, com justiça socioambiental, com “terra, teto e trabalho”
(...)
Excelente texto. Demos graças aos bispos.
ResponderExcluirAmém!
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