De volta ao passado

Plínio Salgado e seus seguidores, os camisa-verdes

Qualquer semelhança não é mera coincidência. O lema “Deus, pátria, família”, da maior organização de extrema-direita já criada no país, a Associação Integralista Brasileira (IAB),  é exatamente o mesmo do candidato às eleições presidenciais de 2018, portanto, mais de 70 anos depois de a AIB ser banida por Getúlio Vargas, em 1937. Acertou quem pensou no 'ideário' de Jair Bolsonaro, que volta a encarnar o espírito do movimento inspirado no fascismo de Benito Mussolini, fundado por Plínio Salgado (1895-1975).

Com a diferença que Salgado havia caído no gosto dos intelectuais, por ações como a leitura de poemas de sua autoria na antológica Semana de Arte Moderna, de 1922 (dá para imaginar Bolsonaro escrevendo um poema? E livros?). Um de seus livros foi elogiado por Monteiro Lobato e o próprio movimento teve entre seus ideólogos e simpatizantes o jurista Miguel Reale e o escritor Gustavo Barroso, que presidiu a Academia Brasileira de Letras. Personalidades acima de qualquer suspeita, como Vinícius de Moraes, San Tiago Dantas e até Dom Helder Câmara, que criou a Cruzada de São Sebastião no coração da Zona Sul carioca, foram integralistas.

O grupo anticomunista, antiliberal e religioso defendia o estado centralizador, autoritário e a organização da sociedade ao estilo fascista. Para eles, os homens de verdade eram os bandeirantes paulistas – alguma semelhança com os grileiros e garimpeiros acolhidos por Bolsonaro? – e o caboclo do interior, conforme o jornalista Pedro Dória, no livro “Fascismo à brasileira”, que lança em breve. De todo esse pacote de similaridades, o que dissocia totalmente Bolsonaro de Plínio Salgado, porém, é o nível dos intelectuais que os cercam. Convenhamos que um Olavo de Carvalho não chega aos pés dos demais mencionados.

E se voltamos ao passado para entender esse estranho presente, o Serviço Nacional de Informações (SNI), coluna vertebral da ditadura militar entre 1964 e 1985, também ajuda a entender a obsessão de Bolsonaro pelo setor de inteligência. Assim como o presidente desejava controlar a Polícia Federal - o que derrubou Sérgio Moro do ministério da Justiça -, encontrou naquele que o sucedeu, o terrivelmente evangélico, um aliado para arapongar - principal atividade do SNI - os brasileiros que discordam de seu chefe máximo nos, malfadados relatórios‘antifascistas’. O mais curioso nisso tudo é que Bolsonaro e seus asseclas se mostram ofendidos quando taxados de fascistas.

E enquanto pesquisadores compreenderam que a população iletrada associa a palavra comunista a ladrão, Bolsonsaro se mantém fiel à mentalidade da guerra fria, que dividia o planeta entre capitalistas e comunistas. Quer país mais capitalista que a China? O único forte laço do país asiático com o sistema execrado por Bolsonaro é a ditadura, que o presidente, se pudesse, também instauraria no Brasil. 


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