Estratégia infalível

Não é a primeira vez que faço minhas as palavras do brilhante cientista político Christian Lynch. Ele começa sua análise da atual conjuntura com um aviso sinistro: acostumem-se, vai piorar, antes de melhorar. Bom, a essas alturas dos acontecimentos já é um alívio saber que pode melhorar...O que ele chama de ‘novo governo Fiqueiredo’, tocado por militares aposentados – sem dúvida mais inteligentes que o limitado presidente –, encontrou o equilíbrio em um ‘autoritarismo democrático’ à moda brasileira, ou seja, mole, cínico, malandro, escorregadio.

A única coisa que Bolsonaro tinha ao assumir a presidência era a manipulação digital, que também consagrou o Brexit e Trump. Por aqui, burra e grossa, no geral. Em meio à dramática pandemia, o presidente criou técnicas próprias de cooptação, a exemplo de Pazuello, que neutraliza e apaga as áreas conflagradas, com sua presença/ausência. Deu problema? A solução é nomear quem não entende nada de sua pasta, e, como por milagre, os problemas desaparecem, por omissão, incompetência e paralisia. A experiência se espalha.

Esse castelo de cartas é facilitado pela erosão da consciência política da mentalidade antijudicialista, recuperando a doutrina da razão de estado e separação dos poderes, inciada por Temer, e que justificou sua absolvição. Ao mesmo tempo, juristas ambiciosos e oportunistas são cooptados pela promessa de vaga no STF, enquanto se desmoraliza a autoridade do tribunal, negando, por exemplo, a existência do tal dossiê antifascista do ministério da (in) Justiça.

Os mais radicais foram neutralizados pelos militares e a energia, que deveria se voltar ao exercício da presidência, se restringe à campanha da reeleição. Bolsonaro passou a apostar no ‘lulismo às avessas’, substituindo os votos perdidos da classe média, com o abandono do combate à corrupção, pelas classes mais baixas, atendidas pelo auxílio emergencial. Fingiu não praticar ‘a velha política’, que tanto atacou, ao distribuir cargos ao Centrão.

O quase golpe denunciado pela Piauí caiu no esquecimento, assim como o escândalo que envolve Queiroz e os imóveis adquiridos em dinheiro vivo por vários familiares. Por muito menos Dilma e Collor caíram. Enquanto isso, a esquerda se nega a se unir para derrubar o monstro. E a tão almejada paz chegou com a substituição do golpismo pela malandragem. Nada que mais de 100 mil óbitos possam reverter. Socorro!!!

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