Circo de horrores da Saúde


 Na mesma semana em que Bolsonaro tem a cara de pau de afirmar que “não viu governo mais eficaz que o brasileiro na pandemia”, passamos a liderar a taxa de óbitos pela Covid-19, até então detida pelos EUA: chegamos a 53,1 mortos a cada 100 mil habitantes, contra os 52,9 dos americanos. Vem à tona também, pelo El País, que morreram 4.132 pessoas que não conseguiram chegar aos leitos das UTIs em seis estados da federação, Rio de Janeiro à frente, com 2.340 óbitos.

Vivemos ainda uma situação inédita no planeta: já são 80 dias consecutivos desde que atingimos o platô de mil mortes diárias. “Observamos o resultado da falta de uma resposta coordenada do ministério da Saúde, com base na estrutura do SUS”, justificou ao Globo a professora de Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Maria Amélia Veras. Não por acaso, estamos há quase três meses com um interino à frente do ministério que, também não por acaso, se mantém firme no ‘descargo’ por jamais contrariar as ordens do chefe, como fizeram seus rebeldes antecessores.

E em meio a essa guerra surda por fatias do orçamento, em que o presidente oscila entre não ultrapassar o teto de gastos e torrar recursos em obras e programas sociais para turbinar sua candidatura em 2022, a Saúde não gastou nem um terço do que estava reservado para o combate da epidemia. Realmente, Pazuello não poderia ser mais conveniente: não atrapalha e nem gasta. Só que morre gente a rodo. Isso sem falar nas insistentes  mensagens do presidente, estimulando as aglomerações, desdenhando o uso da máscara e receitando a inócua cloroquina.

Para coroar esse circo de horrores a ministra Damares, a mesma que ameaçou “pegar pesado e pedir a prisão de prefeitos” na fatídica reunião de 22 de abril, na mesma linha do chefe - de jogar a culpa do desastre sanitário e econômico nas costas das autoridades municipais e estaduais – está cotada para concorrer ao Senado! Que país é esse? Graças ao STF, o protagonismo nas decisões sobre fechamento e abertura, proporcionais ao andamento da pandemia, nos livrou de dias ainda piores. Se bem que no caso do Rio, o governador já foi afastado por irregularidades nos contratos de saúde. 

Vale lembrar que até o fim do ano provavelmente haverá um ministro “terrivelmente evangélico” na corte suprema para bagunçar o coreto. E outros seis, se o capitão for reeleito. O consolo é que está próxima a chegada da vacina...  

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