O desejo supera a necessidade
Uma
primeira explicação poderia ser a “economia da atenção”, pela qual o negociante
atrai a atenção alheia e a vende com milhares de dados individualizados sobre
cada um que, em meio à multidão, feito abelha no mel, tem seu
olhar atraído para as telas eletrônicas. Ou seja, os conglomerados da era digital
elevaram o velho negócio do database marketing à potência máxima, com
informações precisas sobre as pessoas e desenvolvimento de técnicas neuronais
capazes de magnetizar os sentidos do público. Tudo isso se chama extrativismo
virtual.
Não explica
tudo, porém. A capa da The Economist,
de maio de 2017, anunciava as pessoas como o ‘novo petróleo’. Esse seria o resultado
do cruzamento de dados pelos algoritmos e fórmulas insondáveis, que antecipam as
partículas infinitesimais do humor e dos rumos de cada um dos bilhões de
clientes. Detalhe: são dados 100% confiáveis, que não mentem jamais, capazes de captar características como se a pessoa vai desenvolver
o coronavírus, e quando, ou qual o grau de relaxamento da pessoa ao ouvir a voz do guru
predileto.
Teria sido justamente
esse ‘novo petróleo’ o responsável pelos tais cinco trilhões e pela reviravolta do mercado global, com a
mudança de mãos do dinheiro. Entretanto, conforme Eugênio Bucci, do Estadão, a
causa mais determinante para explicar essa impressionante fortuna é a profunda
mutação do capitalismo: as mercadorias físicas, ou as coisas úteis, passaram ao
segundo plano, enquanto a fabricação industrial de signos assumiu o comando da
geração de valor. Quer dizer, o capitalismo aprendeu a confeccionar e entregar,
com imagens e palavras sintetizadas industrialmente, os objetos imaginários necessários para o sujeito saciar o seu desejo.
Por trás da
extração de dados, portanto, existe outro negócio ainda mais poderoso: a
industrialização da linguagem. Trocando em miúdos: hoje o capital trabalha para
o desejo, e não mais para a necessidade. Esses conglomerados digitais dominaram a industrialização da linguagem voltada ao desejo para, assim, atrair o trabalho do planeta a seu favor.
Por essas e outras, quero morar no mato.
ResponderExcluirA necessidade nos obriga a, de alguma forma e sempre que possível, resolve-la; o desejo no impulsiona, nos lança, sem medidas na busca para satisfaze-lo! Na história da humanidade não novidade nisso, apenas lançaram mão do que está latente em nós!
ResponderExcluirSim, e tiratam muito proveito disso!
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