Rumo à reeleição
Deve ter sido bem estranho para a equipe liberal do ministério da Economia acatar a decisão do Congresso de subir para R$ 600 o auxílio emergencial durante a pandemia. Inexperientes como são em bancar ações sociais, devem ter se surpreendido com a instantânea subida de popularidade do chefe, a quem a população atribuiu, erroneamente, a bondade. O uso indevido da bagatela de R$ 42 bilhões está aí para comprovar essa inexperiência.
E agora que
o Jair já viu que calar a boca – embora não tenha conseguido conter o real Jair
diante da inconveniente pergunta do jornalista sobre os depósitos de R$ 89 mil na
conta da primeira-dama – e bajular os pobres rende votos, ele não pensa em
outra coisa. O auxílio, de R$ 300, foi prorrogado para até o fim do ano, antes
que os votos já entabulados saiam pelo ralo. Rebatizou o internacionalmente
reconhecido Bolsa Família de Bolsa Brasil, para chamar de seu, sem maiores e
necessárias discussões, baseadas em dados.
Inexperientes
como são, enquanto só pensam naquilo, partem para o improviso, como lembrou
Míriam Leitão em sua coluna no Globo. O pai da ideia original foi o ex-ministro
de FHC, Cristovam Buarque, que criou o Bolsa Escola com a contrapartida das
famílias beneficiadas matricularem seus filhos nos colégios. O Bolsa Família
nasceu como uma rede de proteção social, que agora tende a ser descaracterizada
como um programa para corrigir o déficit de empregos, agravado pela pandemia. A
descaracterização pode trazer problemas, fora o fato de se transformar em plataforma eleitoral para a reeleição em 2022.
Apesar de o
Bolsa Família ter sido construído coletivamente como uma bem sucedida
estratégia de transferência de renda no país, Bolsonaro não perdeu a
oportunidade para se comportar como um político em campanha: “passamos por
tantos problemas no passado e nenhum
outro presidente lembrou do povo para dar uma aspirina sequer”. Como assim?
E para arranjar recursos do fundo do baú sem quebrar o teto de gastos – também comprometido pela promessa de obras que nada têm a ver com a crise sanitária - , o governo cogita acabar com o abono salarial, ao invés de estabelecer a renda familiar como pré-condição; com o seguro-defeso porque há fraude, ao invés de combater a fraude.
Enfim, a crise social que virá no pós-pandemia necessita de
toda a atenção possível, porém, não de projetos improvisados, cujo objetivo é
reeleger Bolsonaro em 2022.
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