Machado, biógrafo de Pedro II
Um “prosador novato”, como ele mesmo se definiu, escreveu uma inédita biografia de D. Pedro II. Era Joaquim Maria Machado de Assis, em colaboração à revista Espelho. Com apenas 20 anos, em seu primeiro trabalho, Machadinho passou a assumir o nome Machado de Assis, então, um ilustre desconhecido, ainda despido da fama. Deixou 38 textos, escritos em quatro meses. A biografia do imperador entrou na edição de número 10 da revista.
O achado foi
da doutoranda em História Cristiane Garcia Teixeira, para a tese defendida em
2016 pela Universidade Federal de Santa Catarina. Porém, só se tornou pública
no artigo recém-publicado pela Revista ArtCultura. Acredita-se, segundo
Cristiane, que Machado se envolveu diretamente no processo de construção do periódico semanal O Espelho: Revista Semanal de Literatura, Modas, Indústria e Artes. Ele tinha 12 folhas e circulou apenas de 1859 a 1860.
Ali, a palavra ‘moderno’ era onipresente. A revista chegou em um período de efervescentes mudanças no Rio, quando a imprensa
carioca começava a sofrer as influências da modernização da comunicação em
massa, e “tornava-se um espaço fundamental para a manifestação de ideias e
disseminação de gostos, na transição entre o Romantismo e o estilo realista do
jovem Machado”, nas palavras da doutoranda.
Cristiana
acha muito provável que a revista tenha circulado apenas na Corte, para
garantir um número de assinantes que assegurassem sua continuidade. O veículo
era sustentado por quatro pilares: instruir, moralizar, civilizar e deleitar.
E, neste
momento em que o presidente vai passear de jeatsky, solidariedade zero, enquanto brasileiros morrem aos borbotões de Covid-19, é no mínimo curioso
um dos trechos da biografia de Machado, ainda sem o estilo que o
caracterizou:
“Quando este
immenso paiz foi invadido pelas duas últimas calamidades (não mencionadas), que
tantos filhos deixaram na orfandade, tantas mulheres na viuvez, e tantos pais
na dor, na saudade e no martyrio, só Deus sabe quanto aquelle coração se
affligia. Só Deus sabe o sentimento que ia ali dentro, quando, esquecendo-se de
si mesmo, como Christo, descia até a choupana do pobre para com a mão amiga
consolar os soffredores”.
interessante descoberta. Fiquei curioso sobre o que o jovem Machado poderia ter escrito sobre o, um pouco mais velho, mas não muito, jovem Imperador. Nascido em 25, Pedro II teria uns 35 anos, quando a Revista deixa de circular... ou seja, sua Biografia ainda estava por ser escrita, não por Machado, mas por si próprio.
ResponderExcluirMas a comparação com a politica de jet-ski procede.
Parabéns por lutar contra a inércia e outros males que nos assolam.
Obrigado.
Ótimo.
ResponderExcluirObrigada queridis leitores
ResponderExcluir