Os erros do passado
Reproduzi aqui trecho da biografia de D. Pedro II por Machado de Assis, publicado na Revista Espelho. Mostrava o quão generoso e sensível era o imperador. Sabe-se, porém, que o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, iniciativa que, embora tardia, culminou no fim do Segundo Império. O que poucos sabem, contudo, é que Pedro II assinou a Lei de Terras, em 18 de setembro de 1850, o que dividiu a Zona Rural em latifúndios.
A
decisão do monarca, porém, só ratificou um projeto que entrou no Parlamento em
1843, com base num anteprojeto de autoria de conselheiros do imperador. Ou
seja, foram sete longos anos tramitando pelo Congresso e pela Câmara, entre
impasses e reviravoltas, conforme revelou o El País.
Hoje,
segundo o Incra, apenas 0,7% das fazendas são superiores a 20 km² em extensão.
Somadas, elas ocupam quase 50% da Zona Rural brasileira. Mais da metade das
propriedades, ou 60% delas, não chegam a 0,25 km² e correspondem apenas a 5%
das áreas rurais.
Sobre o predomínio de latifúndios em relação às pequenas
propriedades, ao contrário da Europa, estudiosos
atribuem os movimentos que reúnem trabalhadores rurais sem terra. Ele responde
ainda pela banalização da violência no campo.
O
planejamento do campo rural foi revelada por documentos de época, guardados no
Arquivo do Senado, em Brasília. Não é difícil imaginar que muitos senadores e
deputados eram também senhores de terra. Seus motivos podem ser aferidos no
discurso do senador Costa Ferreira (MA):
“Isso de
repartir terras em pequenos bocados não é exequível. Só quem nunca foi lavrador
é que pode julgar o contrário. São utopias. Ninguém vai para lá [o interior do
país]. Ninguém se quer arriscar.”
Ferreira
argumentava que só os grandes senhores teriam forças para expulsar os índios
destes territórios. Embora o Brasil fosse agrário nos tempos do império e
dependesse da exportação do café, poucos fazendeiros tinham registro de
propriedade. Eram os donos das chamadas sesmarias, doadas de papel passado pelo
rei português ainda na colônia, em troca de cultivo. Por sua extensão e
limitado aproveitamento, eles viviam sob o risco de confisco.
Além disso, não havia limites claros entre essas terras. Os
sesmeiros fugiam da demarcação pela carestia e escassez de técnicos para fazerem a medição. Já os posseiros não tinham escritura. Os conflitos entre ambos eram
permanentes. Quer dizer, colhemos os frutos dos erros do passado. O mais grave
deles, sem dúvida, é a escravidão.
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