Quando vence o pior

 


Extraio aqui trechos do artigo de Ivan Lago, doutor em Sociologia Política, brilhante análise do drama brasileiro. Graças a um longo histórico de abandono da Educação, única ferramenta capaz de trazer lucidez à mente humana.

“Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Ao assistir o show de horrores diário produzido pelo “mito”, esse cidadão não é tocado pela aversão, pela vergonha alheia ou pela rejeição do que vê. Ao contrário, ele sente aflorar em si mesmo o Jair que vive dentro de cada um, que fala exatamente aquilo que ele gostaria de dizer.

No “mundo real” o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência... em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto.

Capitão do Exército expulso da corporação por organização de ato terrorista; deputado de sete mandatos conhecido não pelos dois projetos de lei que conseguiu aprovar em 28 anos, mas pelas maquinações do submundo que incluem denúncias de “rachadinha”.

Conhecido ainda pela contratação de parentes e envolvimento com milícias; ganhador do troféu de campeão nacional da escatologia, da falta de educação e das ofensas de todos os matizes de preconceito que se pode listar.

Embora seu discurso seja de negação da “velha política”, Bolsonaro representa não sua negação, mas o que há de pior nela. Ele é a materialização do lado mais nefasto, mais autoritário e mais inescrupuloso do sistema político brasileiro.

O cidadão médio se vê empoderado quando as lideranças políticas que ele elegeu negam os problemas ambientais, pois eles são anunciados por cientistas que ele próprio vê como inúteis e contrários às suas crenças religiosas. Ele também não entende patavinas do sistema democrático.

O “brasileiro médio” gosta de hierarquia, ama a autoridade e a família patriarcal, condena a homossexualidade, vê mulheres, negros e índios como inferiores e menos capazes, tem nojo de pobre, embora seja incapaz de perceber que é tão pobre quanto os que condena. Vê a pobreza e o desemprego alheio como falta de fibra moral, e percebe a própria miséria e falta de dinheiro como culpa dos outros e falta de oportunidade.”

E, para coroar essa tragédia, passamos a viver em um mundo manipulado pelas redes sociais. Não que a tecnologia seja uma ameaça existencial. Essa ameaça é a capacidade da tecnologia trazer à tona o que a sociedade tem de pior.

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