O dilema das redes

 


Vício e dependência dos plugs

“O dilema das redes” (Netflix) foi um dos mais reveladores documentários que já assisti. Grito de alerta para os rumos do planeta sob a influência dessa mídia: uma legião de zumbis que a cada dia perde seu poder de decisão. A força do filme está nos depoimentos de ex-funcionários de plataformas como Google, Facebook, Twiter e Youtube, entre outros.

Todos alertam para um processo de dominação da natureza humana pelo que eles próprios chamam de 'chupetas digitais'.

A motivação geral são os novos estudos que mostram como as mídias sociais afetam a saúde mental, viciam milhares de pessoas, sobretudo crianças, e têm impacto sobre casos de depressão e suicídio. Será tão grave assim?

A resposta é sim para o ex-funcionário do Google, onde atuou como especialista em ética de design, Tristan Harris. Ele teria sido um dos primeiros a perceber que “a tecnologia deixou de ter o papel de ferramenta para se tornar um vício e um meio de manipulação”. Por isso, foi batizado de “voz da consciência do Vale do Silício”.

“A tecnologia não é uma ameaça existencial, e sim sua capacidade de trazer à tona o pior da sociedade. E o pior da sociedade é uma ameaça existencial”, argumenta Harris.

Essa ameaça, como diz, se manifesta em atitudes de indignação, invisibilidade, falta de confiança no outro, solidão, alienação, falta de iniciativa, polarização, manipulação eleitoral (eleição de Trump, Bolsonaro e escolha do Brexit, entre outros), ataque à democracia, crescimento do populismo e incapacidade de abordar problemas reais. “Nós nos aproximamos de uma sociedade de zumbis em estado de caos, Frankensteins digitais”, define.

A ideia é de que saímos da era da informação para entrar na era da desinformação. E de que vivemos o capitalismo da vigilância.

A professora de administração da Harvard Business School aposentada, com PhD em psicologia social, Shoshana Zuboff, sustenta que as redes sociais “vendem a certeza, e para isso são necessários muitos dados”. Esses dados são cada clique do usuário, pelos quais as ferramentas destrincham quem ele é, abrindo espaço à sua total monitoração.

Zuboff compara os seres humanos a ratos de laboratório, usados não para a busca da cura do câncer, mas para verem cada vez mais anúncios e aumentarem o lucro em experimentos de contágio em larga escala. “É possível afetar emoções e comportamentos no mundo real sem que as pessoas tenham sequer consciência disso”, diz ela.

Para Anna Lembke, médica com formação em ciências humanas, a mídia social age como uma droga: “Temos uma necessidade biológica de nos conectar aos outros, e isso afeta a liberação de dopamina como recompensa. 

As redes otimizam a conexão entre as pessoas com potencial viciante.” Ou seja, curtam com moderação e consciência. E previnam-se dessa arapuca!

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