Um Pinóquio na ONU

 


A sorte de Bolsonaro, ao abrir a 75ª Assembleia Geral da ONU, é não haver ali nenhum detector de mentiras.  Foi um discurso sobre seu mundo paralelo. Indiretamente, deu a entender que a culpa pelos mais de 138 mil óbitos e 4,6 milhões de contaminados pela pandemia foi dos 27 governadores da federação. Se apossou do auxílio emergencial, batalhado pelo Congresso, e culpou a imprensa por disseminar pânico.

Pânico esse que era o contrário de tudo o que sempre fez: estimular aglomerações, evitar o uso de máscaras e lembrar que a hidroxicloroquina – que ele teve a cara de pau de citar no discurso – não tem aval científico. Claro que ele não mencionou que o país passou quatro meses sem ministro da Saúde em plena crise sanitária.

Incluiu o auxílio de mais de 100 bilhões de dólares às pequenas empresas – meu marido, por exemplo, foi um que não viu um tostão sequer – e disse ter compensado a perda de arrecadação dos estados e municípios. Se fosse Pinóquio seu nariz estaria gigante.       

O pior, contudo, foi minimizar os mais graves incêndios sofridos na Amazônia e Pantanal – que arderam como brasas nos últimos meses, estimulados pela passagem das boiadas do ministro dos garimpeiros e grileiros, Ricardo Sallles – o homem de confiança que faz o que o chefe quer. “Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”. Tadinho, quanta maldade e injustiça!

Atribuiu ao fato de o país despontar como maior produtor mundial de alimentos aos interesses de propagar desinformação sobre o “nosso meio ambiente”, aquele para o qual está se lixando, mesmo sob o risco da já iniciada fuga de investidores internacionais. “Os incêndios acontecem nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência.”


 Aí ele se superou, ao atribuir os incêndios criminosos aos índios – a quem todos sabem foram abandonados à própria sorte por seu governo. “Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”...quando, onde?


 As queimadas no Pantanal, que arderam como nunca, foram “consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição." Para quem odeia tanto os levantamentos do Inpe e a ciência, como será que chegou a essa conclusão?


Cabe aqui um elogio, porém. Dessa vez ele não disparou sua metralhadora giratória contra os ‘inimigos’ (a grande maioria de democratas presentes). Talvez porque estivesse, de fato, com o rabo entre as pernas.

 

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