Volta à normalidade

 


A disputa do bem que inicialmente favorecia a vacina de Oxford, em parceria com a Fiocruz, perdeu fôlego após duas interrupções nos testes. Apesar de retomados, especialistas e leigos baixaram as expectativas. Quem toma a dianteira é a CoronaVax, imunizante da chinesa Sinovac, cuja eficácia deve ser confirmada em outubro. A parceria com o Butantan permite ao governador de São Paulo, João Dória, programar o início da vacinação para a segunda quinzena de dezembro.

Claro que por trás disso existe uma competição invisível. Talvez nem tanto... A vacina de Oxford poderia ser associada ao governo Bolsonaro, que investiu mais de R$ 500 milhões no imunizante. Enquanto Dória conseguiu arrecadar com doações R$ 97 milhões da meta de R$ 160 milhões, o já ministro Pazuello mandou identificar fonte orçamentária para contribuir com mais R$ 145 milhões para o imunizante.

Nesse caso, duas situações são favoráveis aos brasileiros: o obediente Pazuello aparentemente sequer cogita politizar o assunto. Já anunciou que vai favorecer a melhor para o fornecimento gratuito à população pelo SUS.

A outra é que Bolsonaro tem mantido o bico calado nesse quesito. Não é difícil imaginar como ele deve estar se remoendo se essa liderança passar ao rival político, e a primazia se destinar a um produto chinês, país que ele detesta e é obrigado a engolir por ser nosso maior parceiro comercial. Está óbvio que, se dependesse do presidente, a primazia jamais favoreceria esses 'inimigos'.

As duas vacinas estão entre as nove atualmente na fase três – quatro delas em testes no Brasil -, de comprovação da eficácia e de checagem dos riscos. Entre os 50.027 voluntários testados, a CoronaVac causou dor no local da aplicação entre 3,08% deles, fadiga entre 1,53% e febre moderada em 0,21%. Ou seja, nada de efeitos graves. Apesar de sua provável aprovação, talvez sua eficácia se restrinja a 50%, e vai requerer duas doses de aplicação.

As primeiras 5 milhões delas devem chegar ao Butantan para distribuição nas próximas semanas, em outubro. O início da vacinação, contudo, ainda terá de aguardar o fim da terceira fase e aprovação pela Anvisa, que promete agilidade. Até 31 de dezembro estão programadas mais de 46 milhões de doses e mais 9 milhões, até 28 de fevereiro. 

Na primeira etapa serão vacinados os profissionais de saúde. Só do estado de São Paulo. Dória disse ter sugerido ao ministério a compra de mais 40 milhões de doses da vacina para o restante do país.

O consolo é que, segundo o médico Jeremy Farrar, diretor da instituição filantrópica Wellcome Trust, que investe milhões em pesquisas científicas, se de 20% a 30% da população for vacinada (profissionais de saúde e idosos) “já podemos voltar à normalidade”. Otimista, ele acredita que em 2021 haverá mais de uma vacina disponível. Nos aproximamos do fim do pesadelo. Amém!

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