Gripe espanhola 'não tem nada a ver' com a Covid-19
Em meio à chegada da segunda onda na Europa e na Amazônia, causada pela mutação do vírus, a AFP foi a campo para levantar
semelhanças e diferenças da pandemia com a gripe espanhola, que
provocou ao menos 50 milhões de mortes no planeta entre 1918 e 1919, já abalado
pela Primeira Guerra Mundial. A Covid-19 já tem quase 160 mil óbitos.
Para começar, não há como comparar o mundo globalizado de hoje,
com comunicação a jato pela Internet e todo o avanço tecnológico (não existiam
sequer os antibióticos) ao início do século passado. Na época a primeira onda, encerrada
em julho de 1918, com casos leves, chegou a passar desapercebida em vários
países, ao contrário do que acontece agora.
A segunda onda, também detectada no acampamento militar americano
Camp Devens, perto de Boston, e ocorrida em setembro de 1918, provocou a grande maioria dos óbitos. O motivo não foi o relaxamento da
população – que sequer se isolou como acontece agora e quase não usou
máscaras nessa primeira fase -, e sim a cepa mais letal do vírus. O que ainda não se confirma agora, com a volta da doença possivelmente causada por trabalhadores espanhóis em férias, que se espalharam pela Europa.
Em 1918, o novo surto surgiu simultaneamente na Europa, Américas e Ásia, com pico entre setembro e novembro. Foi considerado a verdadeira epidemia de gripe de 1918. Houve ainda uma terceira onda, entre fevereiro e maio de 1919. Embora grave, não matou tanta gente quanto a segunda.
A intensidade da segunda onda levou virologistas a acreditarem
que o vírus ficou totalmente diferente. Conforme os especialistas ouvidos pela
AFP, a intensidade do patógeno chamou a atenção sobretudo por matar jovens
entre 20 e 35 anos. O que também seria explicado pelas condições desumanas
vividas pelos soldados na guerra. Talvez esse aspecto possa ser comparado hoje à miséria agravada pela Covid-19, especialmente entre os países mais pobres.
O segundo surto, segundo a mesma fonte, “não se deveu a um desconfinamento,
pois não houve confinamento durante a primeira fase”. Em meio à guerra, muitos,
de vários países, eram obrigados a trabalhar sem pausas. E, naquela época, o
principal remédio para a gripe era justamente o repouso.
Para quem busca respostas no passado para o presente,
em meio às dramáticas situações totalmente novas vividas pelo planeta, o professor de História
Moderna da Universidade de Barcelona, José Luis Betrán, é categórico
sobre os dramas de 1918 e os atuais: “não têm nada a ver”.
Como se sabe, embora a gripe tenha surgido nos EUA, as notícias de
sua disseminação foram censuradas no país. De lá, as tropas americanas exportaram o mal à Europa. A Espanha, contudo, neutra no conflito, tornou a doença pública
e acabou levando o pato por nomeá-la. O fato é que os chineses nunca chamaram a
doença de gripe americana...
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