Quem são os maus brasileiros?
Cada vez mais tenho a sensação de estar na ditadura. Entrei para o Jornal do Brasil em 1980, convivi com a censura e com o acirramento de reações da linha dura quando a abertura começou a despontar no horizonte. Nossa equipe ganhou o Prêmio Esso pela cobertura da Bomba no Riocentro, episódio que, por muita sorte, não virou uma carnificina com a bomba que explodiria no evento lotado de jovens. Acabou por explodir no colo do sargento que participava do atentado.
Agora,
enquanto a Floresta Amazônica e o Pantanal queimam a olhos nus, pela total
falta de fiscalização e de investimentos pelo ministro da motosserra, dos
garimpeiros e grileiros, e os incêndios são devidamente contabilizados pelo prestigioso Instituto
de Pesquisas Espaciais (Inpe), me vem o general Heleno
enviando gente da Abin para a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-25),
realizada em Madri. Finalidade? Espionar os ‘maus brasileiros’, que ousam
denunciar as atrocidades que acontecem em nosso país.
"Temas
estratégicos devem ser acompanhados por servidores qualificados (foi uma boquinha para gente recém-formada), sobretudo
quando envolvem campanhas internacionais sórdidas e mentirosas, apoiadas por
maus brasileiros, com objetivo de prejudicar o Brasil", reproduziu o
Estadão a fala do ministro. Isso só depois de o jornal denunciar a presença de
pessoas estranhas à conferência. A quem você chamaria de ‘mau brasileiro’?
Volto
a assistir a extraordinária capacidade das autoridades de mentirem descaradamente e
jamais assumirem os próprios erros, como esta permissividade diante da conservação
de nossos mais importantes biomas.
Me faz lembrar algo que li recentemente, estarrecida. No início das obras da
Transamazônica, uma invasão da floresta que terminou soterrada pela mata, foi derrubada uma árvore de 50 metros de altura. O mestre de cerimônias era o
então presidente Médici – o maior torturador do regime militar -, sob aplausos
de quem assistia à macabra cena.
Passados
30 anos, a trupe de Bolsonaro continua se comportando igual. Até
hoje eles não entenderam que a floresta em pé, com sua rica biodiversidade,
rende muito mais. Não só em dinheiro, quanto na qualidade de vida de quem vive
lá e no respeito internacional. Este, proporcional aos investimentos que poderiam
entrar no país.
Até
quando vai durar esse pesadelo?
É perfeito o seu raciocínio. Espero que esses moços deixem o Planalto pelo menos menos em 22.
ResponderExcluirPor enquanto nao é o que parece, infelizmente
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