Coisas de um boçal

 


A alegria de Bolsonaro durou pouco. A Anvisa autorizou ontem de manhã a retomada dos testes com a CoronaVac. Por mais que o órgão regulador tenha sido aparelhado pelo presidente, pegou tão mal que ele teve de voltar atrás. Bolsonaro continua apostando no pior. Em última análise, por mais mortes de brasileiros que poderiam ser evitadas.

Para evitar tanto vexame, o presidente podia estudar um pouco de história. Se informar sobre o que estava por trás da célebre Revolta da Vacina, com vandalismo e mortes, em novembro de 1904. Ela  não foi exclusivamente motivada pela reação popular que se voltava contra a obrigatoriedade da vacina, que acabou com o flagelo da varíola.

Populares também foram insuflados por interesses políticos escusos, que se aproveitaram de uma questão de saúde pública para estimular o quebra-quebra. Conforme mostram documentos históricos do Senado, levantados pelo El País, os provocadores tinham nome e sobrenome: o médico Barata Ribeiro (que injustamente nomeou a importante avenida de Copacabana) e o militar Lauro Sodré (que também virou nome de rua). Ambos, senadores da República e maiores adversários do projeto, antes dele virar lei.

Sem admitir que ele e sua família haviam se vacinado, Ribeiro atacava a lei da vacinação como um “ato de exceção”,  “atentado contra direitos e liberdades individuais”. E, como alguém que conhecemos, foi mais longe: “Todas as estatísticas demonstram que a profilaxia da inoculação da vacina não tem efeitos gerais e absolutos.”

Só que o que estava por trás de seus argumentos era algo bem diferente. Ribeiro agia para enfraquecer o prefeito da então capital federal, Francisco Pereira Passos. O médico alegava que o Rio vivia sob uma ditadura e acusava as autoridades de “árbitros sobre os corpos alheios”.

Com Sodré foi parecido. Ele não considerava um erro oferecer a vacina à população, e sim torná-la compulsória. A ciência ensina que só um grande número de pessoas vacinadas pode acabar com uma pandemia, como foi no passado e será nessa conturbada segunda década do século 21. O que desejava o militar, tenente coronel do Exército, era desestabilizar o governo de Rodrigues Alves, descontente com os rumos civis tomados pela República.

E agora, o que leva Bolsonaro a atacar a CoronaVac? A implicância com o governador de São Paulo, onde o Butantan fez parceria com a chinesa Sinovac. E com a China, nosso maior parceiro comercial. Tudo para fazer coro a Trump, que sequer foi reeleito. E, num acesso de boçalidade extremada, ameaça atacar a maior potência do planeta com pólvora. Pela primeira vez o governo brasileiro não parabeniza o novo presidente dos EUA. Coisas de um Boçalnaro ou Bolsalnero, como diz meu amigo Carlos Minc.  

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