Desconforto dos fardados

 


Ao mesmo tempo em que prestigia as Forças Armadas, Bolsonaro as expõe ao ridículo. Enquanto os generais que estão no governo se calam, o comandante do Exército, general Edson Pujol, deixou claro que a instituição não pertence ao governo e não tem partido político.

Era uma nítida referência ao desastroso comentário do presidente de que usaria pólvora (em plena era nuclear) para defender a Amazônia, achando que seria uma estocada em Joe Biden, presidente eleito dos EUA.

Na véspera, Pujol já havia afirmado que “os militares não querem fazer parte da política”. Difícil escapar dessa, porém, com mais de seis mil cargos que ocupam no governo. 

Para os generais, os comentários são manifestações de Pujol sobre incômodo da instituição, diante da insistência de Bolsonaro em arrastá-la ao vexame. Como se pudesse dispor deles na hora em que cismar de dar um golpe de estado.

Enquanto isso, memes e ataques se multiplicam nas redes sociais, atingindo em cheio os militares. Mais uma vez, Bolsonaro tenta criar novas cortinas de fumaça para seus dissabores – como as provas apresentadas contra o filho Flávio e a derrota de Trump, até hoje não reconhecida por ele.

E depois de levar um fora do presidente sobre o vazamento de um projeto de desapropriação de áreas florestais queimadas, Mourão assumiu sua posição pessoal em relação à vitória do novo presidente dos EUA:

 “Como indivíduo, eu reconheço, mas temos que olhar que eu não respondo pelo governo." “Como indivíduo”, repetiu, como se pisasse em ovos, “eu julgo que a vitória do Joe Biden é cada vez mais irreversível”.

As Forças Armadas têm colecionado motivos de irritação com o presidente. Como o desaforo de Ricardo Salles de chamar o general Luis Eduardo Ramos de “Maria fofoca”. 

Elas também não gostaram nada do papelão ao qual o presidente expôs o general Pazuello, ministro da Saúde, não só de desautorizar sua intenção de comprar a CoronaVac, como de gravar o vídeo em que o general disse, com o rabo entre as pernas, que um manda e o outro obedece.

Com a legitimidade do voto, Mourão tem sido o único a desafiar os absurdos do chefe. Ele já afirmou que o governo vai, sim, comprar a CoronaVac, assim como defende a participação da chinesa Huawei na licitação de tecnologia 5G.

 E faz das tripas coração para convencer diplomatas de que a Floresta Amazônica não está sob chamas.

Até onde irá essa queda de braço?

Comentários

  1. Sobre esta recusa de fazer parte de governo e de não querer fazer política, como afirmou o gen Edson Pujol, comandante do Exército Brasileiro, o comentário do Gabeira, ontem, no jornal das seis da Globo News foi impecável. Salve Gabeira! Só pra dar um gostinho do que foi, destaco, me perdoe o Gabeira se não fui tão fiel ao seu pensamento: -" O Exército Brasileiro já fabricou mais de 2,25 milhões de comprimidos de cloroquina. Isto não é fazer política?"

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