Patrocínio da destruição ambiental
Ou Bolsonaro não tem noção do que se passa em seu governo, ou é de um maquiavelismo inédito. Na semana passada, o presidente ameaçou denunciar quem são os países que compram madeira ilegal no Brasil.
Não
é nem questão de não saber o que se passa, e sim ignorância ou má orientação
sobre quem compra: não os países, e sim empresas. Será que ele não imaginou que poderia haver algo de errado com o lado de quem vende?
Com uma canetada, esses comerciantes ilegais passaram a comprar ipê, a madeira de lei mais cobiçada no mundo, pelo preço de um reles eucalipto.
A mágica ocorreu pelo afrouxamento do processo de exportação do ipê, o que
contrariou parecer técnico do Ibama, assim como o pedido de que a espécie fosse
inserida na lista de ameaçados de extinção, ou mesmo em situação de alerta da
Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e da
Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção.
Tudo isso, porém, é apenas a ponta do iceberg. Ontem o Globo, em reportagem de Leandro dos Prazeres, trouxe à tona o que antecedeu essa ‘pequena’ mudança.
Eduardo Fortunato Bim, ex-procurador da AGU e atual
presidente do Ibama, recebeu, em 6 de fevereiro, na sede do ministério do Meio
Ambiente, dias antes do afrouxamento das normas, empresários do setor madeireiro do Pará.
Dezenove dias após o encontro, Bim liberou a exportação de madeira nativa sem autorização do Ibama. Atendia, assim, ao
pedido de madeireiras como a Tradelink Madeiras e a Wisi
Indústria, Comércio e Exportação de Madeiras, que devem ao governo multas de R$ 2,6 milhões.
Para os ambientalistas, a norma ajudava a frear a exportação de
madeira extraída ilegalmente. Os madeireiros, entretanto, a criticavam como
burocrática e desnecessária.
Pelo visto, as madeireiras têm cartão verde do governo, já que o ministro Ricardo Salles também teria participado dessa reunião e do aval pirotécnico para essa barbaridade.
Outro que teria
acompanhado as decisões foi o então diretor de Proteção do Ibama, Olivaldi
Azevedo. Quem mais se surpreendeu, contudo, foi a equipe técnica do Ibama que,
dias antes, firmou parecer contra este afrouxamento.
Nem o Ricardo Salles ou o presidente devem reagir a esse desserviço à conservação ambiental do país. Até porque eles têm
sido os maiores patrocinadores da destruição.
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