A origem das ideias de jerico

 

                       O americano Benjamin Teitelbaum explica o Tradicionalismo (foto El País)

 Nem fascistas, nem nazistas. Governos autoritários como os de Bolsonaro e Trump são Tradicionalistas, o que não quer dizer menos radicalismo de extrema direita e conservadorismo extremado. A conclusão é do etnógrafo americano, Benjamin Teitelbaum e está em seu livro “Guerra pela eternidade” ("War for eternity: inside Bannon’s far-right circle", no original, tradução da Editora da Unicamp).

Os 15 meses de pesquisa do autor incluíram entrevistas com Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca, Olavo de Carvalho, o filósofo do clã Bolsonaro e Aleksandr Dugin, guru de Vladimir Putin. “Há um elemento de destruição no Tradicionalismo que não necessariamente existe no facismo”, comparou ao El País o professor de Assuntos Internacionais e Etnomusicologia da Universidade do Colorado. Entre outras pérolas, o Tradicionalismo estimula o racismo de teorias terraplanistas que negam a pandemia e também as vacinas. 

Nascido como uma escola espiritual filosófica, usada na política pelos personagens como os acima citados, seus adeptos creem em um longo declínio que vai culminar na destruição do renascimento. Neste processo, a humanidade passaria a acessar a “verdadeira religião” e costumes, como a restauração da hierarquia em que homens arianos e líderes espirituais dão as cartas. “O Tradicionalismo acredita que é preciso haver um cataclismo para restaurar o que acreditam ser a verdade”, diz Teitelbaum.

Com isso, a teoria introduz um ingrediente espiritual nas agendas populistas de direita, antiglobalistas e antiprogressistas. A adesão a teses bizarras como essas, avalia o professor, é explicada por causas como ressentimento econômico, racismo, antifeminismo e sensação de exclusão. Olavo de Carvalho, por exemplo, “não expressa apenas um ódio às elites, desprezo à ciência, à mídia, às universidades. Existe também a visão, um certo mandato espiritual, com o desejo de destruir grandes organizações, como a União Europeia, as Nações Unidas”, completa o pesquisador. A agenda é a destruição.

Este tipo de embasamento teórico facilitaria a compreensão do por quê da escolha de um Ricardo Salles, o incendiário à frente do ministério do Meio Ambiente, de um Sérgio Camargo, que nega o racismo para presidir a Fundação Palmares ou de um general da ativa que entende de morte para comandar o Ministério da Saúde. Caminhos mais curtos de implosão do que havia antes, para citar alguns exemplos.

O que pretende o autor com seu livro não é relatar a ação de determinados indivíduos, e sim revelar o que está por trás de tudo isso. “O Tradicionalismo é tão fora do mapa que nenhum cientista político jamais ouviu falar dele”, constata. O pior é que nem mesmo a queda de Trump afeta a permanência do movimento. “Há tanto desencanto, tanta frustração com o status quo que nós vemos atores buscando alternativas radicais”, conclui Teitelbaum.

E se alguém tentar explicar a tese a um bolsonarista, agora esta base teórica, ele vai permanecer bolsonarista, convicto como uma mula (as mulas que me perdoem).

 

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