Mil dias depois, Marielle vive!
Era o dia 14 de março de 2018, quando recebi a estarrecedora notícia do violento assassinato de Marielle Franco. Discutia-se a Intervenção Federal no Rio, a mesma que ajudou a abrir as portas à participação do Exército no governo Bolsonaro. Como subeditora de Cidade do Jornal do Brasil – que voltou ao papel de 2018 a 2019 –, pedi uma análise sobre o tema à então vereadora. “Últimas palavras”, foi a manchete do texto escrito ao JB por Marielle, estampado na capa do jornal.
Mil dias
se passaram. E até hoje não se sabe quem foram os mandantes ou as razões do bárbaro crime,
que levou também o motorista Anderson Gomes. Dois ex-policiais estão presos
aguardando julgamento, enquanto a importância da mulher se agiganta como um
símbolo da esquerda, fonte de inspiração para outras mulheres negras, ativistas
sociais, moradoras de favela, mães e bissexuais, como ela
As
homenagens internacionais continuam a pipocar. Marielle virou nome de jardim em Paris,
nomeou estação de metrô e da rua em frente à sede do governo, em Buenos Aires. Sua
memória mobiliza o mundo a cada efeméride de sua partida.
Ao mesmo
tempo, a direita ressentida infestou as redes sociais com imagens degradantes
da mulher que, mais de dois anos depois de morta, mantém sua força de ameaça ao
poder. A deputada federal Talita Petrone, amiga de Marielle, é uma que foi obrigada a se esconder para fugir das ameaças de morte. “Tenho
escolta até para ir à padaria”, disse ela ao El País.
A Open
Fundation, as fundações Ford e Kellogg se aliaram ao instituto brasileiro
Ibirapitanga para investir dez milhões de dólares nos
próximos cinco anos na formação de mulheres negras e em organizações de
ativismo social. E claro que tudo isso tem a ver com a luta de Marielle.
Como
lembrou Pedro Abramovay, diretor da Open Fundation, "o homem acusado de puxar o
gatilho morava no mesmo condomínio do presidente Bolsonaro. E seu filho Flávio
Bolsonaro, senador, empregou duas parentes de um obscuro ex-policial interrogado pelo crime contra Marielle, que
levou seus segredos para a sepultura.” Elos que poderiam explicar a dificuldade em se chegar ao mandante do crime.
Anielle Franco, irmã da vereadora e presidente
do Instituto Marielle Franco, disse ao El País que a investigação continua. “Vamos para o terceiro investigador-chefe. Mas, por ora, sem resultados nem
novidade. Ainda tramita em segredo de Justiça, por isso, o que sabemos é o que
vemos na imprensa”.
Nada do
que continuarem a fazer contra ela, porém, terá eco. Porque Marielle vive!
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