Roubada pela (in) Justiça

 

                                   O assassinato do juiz que continua a me assombrar

Quando parecia que nada poderia piorar, piorou. A Justiça do Rio roubou R$ 16.645 da minha poupança, reserva que mantenho para pagar as contas. Detalhe: estou desempregada e vivo de aposentadoria. Em 24 de julho de 1993, assinei a reportagem “Juiz suspende decisões do presidente do TRT”, no Jornal do Brasil, contra o ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho, José Maria Mello Porto. Como em “Fanny & Alexander”, ele ainda me assombra.

Outro detalhe: em 5 de maio de 2015 levei o mesmo susto. A Justiça rapou da minha conta bancária outros R$ 12 mil.

O então todo poderoso Mello Porto processou a repórter e o jornal por danos morais, por um texto que não falava nada além da verdade. Nem sua morte, provocada pelos sete tiros que levou na Avenida Brasil em seu Audi prata - o que já demonstra quem ele era- em 3 de agosto de 2006, deu fim a esse vergonhoso processo.

Me lembro de depor no Fórum, assistida por um advogado do JB. Tranquila em relação ao dever cumprido, consciência limpa, nunca imaginei que poderia viver esse pesadelo, orquestrado pelo corporativismo do Judiciário. Só não foi pior porque meu advogado, Marcus Siqueira, obteve um despacho solicitando a devolução do valor surrupiado.

Para começar, eu era a ponta mais fraca. Como jornalista, apenas obedeci ordens e cumpri meu dever de apurar e escrever a reportagem que me mandaram fazer. É verdade que o querido Wilson Figueiredo, então diretor do JB, também foi penalizado . E passou maus bocados.

Até saber que terei o dinheiro de volta, foram quatro dias de depressão, agravada por uma crise de herpes (não por acaso) e por esse tempos sombrios. Minha sorte é a produção de endorfina nas corridinhas que ajudam a dar a volta por cima.

O valor ainda não voltou para minha conta, mas vai voltar. Por um lado, me sinto privilegiada. Muito mais dramática é a situação das famílias das primas Emilly Vitória, 4, e Rebeca Beatriz, 7, que morreram de bala perdida na porta de casa, em Duque de Caxias. Destroçados, os familiares ainda terão de fazer das tripas coração para provar que as meninas foram alvo dos tiros de policiais. Mundo cão.

Não tenho queixas do isolamento. Consegui um frila e nunca valorizei tanto minha casa, a deslumbrante vista que tenho da janela e os de quem tanto gosto. Só não contava em ser roubada por quem menos se espera. Agora é esperar pelo fim dessa comédia de erros da imunização dos brasileiros, sob o jugo de Bolsonaro.

 

Comentários

  1. Uma crônica do absurdo cotidiano carioca.

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  2. Inacreditável. Pelo menos terá SEU dinheiro de volta.

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  3. Sim, mas até saber disso sofri um bocado...

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  4. As idiossincrasias da justiça... que se faça justiça com seu dinheiro de volta.

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  5. Uma barbaridade esses tempos em que vivemos...ainda bem q conseguiu de volta uma parte do dinheiro. O mundo do bem sobrevive Celina, com várias pessoas apoiando e na torcida por vc. E o mundo do mal, esse caso, está estampado na ótima foto q ilustra seu texto.

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