Maria Martins ao alcance do olhar
Em meio às temperaturas esturricantes e à beleza desse primeiro domingo de outono, tive um privilegiado encontro com Maria Martins (1894-1973), esse gênio da escultura brasileira conhecido por tão poucos. Fui assistir sua exposição na Casa Roberto Marinho, suspensa desta terça-feira a até daqui a duas semanas, por conta das restrições da pandemia.
Primeira observação. A própria casa tem em seus jardins uma das obras primas de Martins, Gleme-Ailes (1944), emoldurada pelas janelas ovaladas da residência no Cosme Velho. Não há menções da peça na mostra.
A tranquilidade do centro cultural é tanta que o funcionário do estacionamento leva longos minutos para preencher papelzinho burocrático, como se amanhã não houvesse. Minúcias, perto da exposição que se avizinha.
Nascida em 1894 em Campanhas (MG), Maria muda-se
em 1903 para o Rio. Casa-se em 1915 com o historiador Octávio Tarquínio de
Souza – pai de suas duas filhas, Lucia (1916) e Maísa (1922). Em 1924 se
separa e viaja com as filhas para a França. Dois anos depois, se casa com o
diplomata Carlos Martins Pereira de Souza, pai da natimorta Teresa, de Nora
Yoland (1928) e Anna Maria (1930).
Algumas exposições
depois, a artista conhece André Breton, entre 1942 e 1946. Daí é apresentada
a Marcel Duchamp, genial dadaísta e pós-impressionista francês, célebre pelo urinol
alçado a obra-prima em Nova York. Ambos mantiveram um tórrido relacionamento
amoroso.
Maria e o cosmopolita Carlos Martins,
embaixador com quem se casou em 1939, aparentemente conviviam com o turbulento affair, que não apenas teria aberto a Maria as portas de um intenso e criativo movimento artístico, como selou a ascensão de uma promissora carreira artística,
enquanto os franceses continuavam a ousar.
Essa trajetória estará novamente à disposição do público quando a mostra for retomada. Vale destacar que ela ocupa o primeiro piso da magnífica residência no Cosme Velho, com peças a exemplo da instigante Geble-Ailes (1944), a mistura de formas que pertence à coleção e permanece, anônima, nos jardins. Além de Insônia infinita da terra (1954), também da coleção, exposta no hall de entrada.
Maria
Martins continua à frente de seu tempo, sobretudo nessas sinistras e reacionárias gestões de Damares, Sérgio Camargo (Fundação Palmares) e todos os que jogam nossa história e cultura pelo lixo.
Ótimo texto, delicioso. Como valorizar nossa cultura, se não valorizam o mais básico direito à população, o direito à vida.
ResponderExcluirCelina olá , o Centro é lindo mesmo ñ é ?
ResponderExcluirQdo a pandemia permitir, irei ver a exposição! Obgada pela dica
De nada, imperdível, ainda mais naquele cenário...
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