Por que Pesadello durou tanto
Em 16 de maio, quando o
general Pazuello assumiu interinamente nossa combalida Saúde, o Brasil contava
15.633 óbitos. Essa semana, quando seu substituto foi anunciado, já eram mais de
280 mil. Como Bolsonaro pode ter tido a cara de pau de definir sua gestão como
um “trabalho brilhante”, com aquela sua dicção trôpega? Muito difícil crer que alguém possa acreditar nisso. Se brilhante fosse, por que removê-lo em meio
à maior crise sanitária do século?
Nessa troca de Pesadello por Quidroga - como o humor brasileiro já batizou -, a única melhora visível é a de temperamento. Sai um arrogante, que não se envergonha de dobrar o salário e se manter na ativa – para a desgraça do Exército, diretamente envolvido no desastre – e entra um médico, que não entende de saúde pública mas pelo menos é mais afável que seu antecessor.
Pego carona no canal MyNews, do qual me tornei membro, que explica o por que de Pazuello ter se prestado ao papel de para-choque de Bolsonaro. Ele esperava que o presidente criasse uma vaga de general do Exército para si. Por isso assumiu todas as sandices do presidente – como o estímulo ao tratamento precoce em detrimento da vacina.
Aliás, há quem defenda que o boicote às vacinas tem sido para impedir as manifestações de rua. Faz sentido.
O tal “trabalho brilhante” foi o prêmio de consolação de Bolsonaro ao seu capacho, que conduziu o país ao total descontrole da pandemia. Ela agora custa não apenas vidas, como a promoção do país a risco internacional, com a multiplicação de novas cepas que passam a ameaçar o planeta.
Para quem vendeu o falso predicado de ás da logística, desmentido por suas trapalhadas - como não adquirir as vacinas com a necessária antecedência, desdenhar dos alertas sobre a falta de oxigênio na Amazônia, trocar a sigla AM por AP – que enviou ao Amapá as doses de vacina que urgiam no Amazonas e o abandono de testes padrão ouro, entre outros –, Pazuello só poderia ser promovido a general de Divisão, solução sequer cogitada por Bolsonaro.
Conforme O Globo, o presidente pensa em dar a Pazuello um cargo com status que lhe garanta o foro especial, para fugir dos inquéritos que o ameaçam. Assim como Dilma tentou fazer com Lula ao nomeá-lo para a Casa Civil.
Mais desgastado do que pau de galinheiro, não há nenhuma disposição do Alto Comando do Exército em premiá-lo. Pelo contrário. O pressiona para dar o fora e parar de sujar o nome da instituição. No máximo, pode faturar um cargo medíocre no governo federal. Isso se Bolsonaro assim decidir.
Pazuello já foi
tarde. E a inércia em nomear o sucessor só faz piorar o que já está abaixo da crítica. Pena que sem alguém capaz de assumir o maior desafio do Brasil:
estancar a escalada de mortes que cresce em progressão geométrica.
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