A fome bate à porta
Ontem, pela primeira vez, dois mendigos que
encontrei durante minha caminhada matinal disseram em uníssono: “Tenho
fome”. Foi em locais distintos. Em comum, os dois tinham a mesma aparência suja
e miserável. O mantra do segundo permaneceu ecoando no meu ouvido: “Tenho fome,
tenho sede”. Nada pude fazer, não tinha dinheiro, cartão ou qualquer alimento
que pudesse aplacar aquele desespero.
Inevitável lembrar o discurso de Lula em 2002, quando
seu apelo para matar a fome ecoou pelo quatro cantos do planeta. Aquele desejo
de resolver um problema que parece inexistente a quem desse mal não padece
trouxe visíveis consequências e adesões. Betinho fez coro e agora quem arregaça
as mangas por aqui é o empreendedor social Edu Lyra, com sua mega campanha de cesta
básica digital.
Até agora nada, porém, capaz de aplacar os efeitos
calamitosos trazidos pela pandemia. A fome ecoa pelas ruas, contudo, ainda
permanece distante dos gabinetes capazes de saná-la. Pesquisa realizada este mês pela Universidade Livre de Berlim, junto à UFMG e a UnB, mostrou que 58 milhões de brasileiros (27,7% da população) passam fome.
O fato é que a América do Sul, continente que
ostenta os mais altos índices da Covid-19 e, por consequência, todas as mazelas
que a integram, também tem primado por uma estagnação no que diz
respeito aos problemas globais, seja à esquerda ou à direita. (Comunistas são invenções de Bolsonaro e seus seguidores).
“Governos de todas as cores se engasgam com os movimentos ambientalistas e combater o racismo é algo quimérico. A isso se soma o curto-circuito que as organizações de mulheres e o feminismo significam para a direita e a esquerda, em uma região onde os evangélicos têm um peso cada vez maior”, descreve ao El País o jornalista e historiador argentino Pablo Stefanoni, sob a nítida inspiração no Brasil de Bolsonaro.
A CPI que temos pela frente, já iniciada com um adiamento, pode trazer alguma luz a esse cenário nefasto. Sabemos, porém, que no que depender do governo e de seus aliados ela continuará a ser vista apenas como uma pedra no sapato, controlável com mais armas, favorecimentos ilícitos e olhos fechados. Quem se dispõe a encarar a realidade?
Maria Christina Monteiro de Castro
ResponderExcluirnos resta protestar, escrever, falar. Muito pouco mas temos que fazer. Há uns quinze dias, no percurso de minha caminhada, depois de dar uns trocados que eu tinha a três, dei de cara com um quarto que tb pediu e eu disse Não tenho mais, saí para caminhar sem bolsa. Ele me pegou pelos ombros, pôs o rosto perto do meu e disse MAS ESTOU COM FOME E NÃO TENHO O QUE COMER! Cheguei de volta, meu coração batia dep´ressa e tive medo e falei com o porteiro para me emprestar dinheiro e pagar uma quentinha. Mas quando entrei em casa, fiquei um tempão pensando no que vivi e tive uma mistura de vergonha, raiva de mim e de tudo. Não sei onde vamos, Celina Côrtes
Pelo andar da carruagem é o que mais vai acontecer daqui para a frente, se não for ainda pior, com violência envolvida
ExcluirStatus: disponível
ResponderExcluirClaudio Cordovil
Conexão de 1º grau 1º
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12 h
É impressionante como a fome é um não-problema para este governo. Isso da bem a dimensão do seu sadismo. Depois do Fome Zero, agora temos o Fome 1000. Impressiona-me também o Silêncio dos Banqueiros, que poderiam criar uma forca-tarefa para combate à fome. Mas o.problema deles é a Bia, uma.maquina que sofre assédio sexual. Ficção científica das boas. Como diria Brecht, "o que é roubar um banco perto de fundá-lo?"
Sim, vivemos tempos surreais
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