Democracia de mentirinha

 

Não é novidade para ninguém que vivemos uma democracia de mentirinha, a todo momento ameaçada pelo presidente com o fechamento do STF e aparelhamento de nossas instituições. Semana passada, mesmo, o ministro Alexandre de Moraes viu-se obrigado a uma pirueta para escapar dessas armadilhas.

 Bypassou Augusto Aras sobre a operação deflagrada pela PF contra Ricardo Salles. Alguma dúvida de que o PGR iria dedurar o esquema para melar sua realização?

Pois bem, Augusto Aras se indignou. Protocolou ação no STF para que tal tipo de operação não ocorra antes de passar pelo seu crivo. Daqui para a frente, se a ação for acatada, um Salles poderia continuar a aprontar das suas sem ser incomodado, como desejaria o presidente. 

Afinal, todos sabem também que o ministro do Meio Ambiente nada mais faz do que cumprir as ordens do chefe.

Outra situação esdrúxula ocorreu nesse mesmo contexto. Após cobrar satisfação à PF, acompanhado de um funcionário armado, Salles seguiu para uma reunião com o presidente e o ministro da Justiça, a quem a PF é subordinada. 

Trata-se de um caso inédito em que o alvo da operação participa de um encontro com seus superiores, que deveriam estar discutindo sua punição. Tanto o assunto não era esse que Bolsonaro se apressou em declarar em suas redes o “excepcional ministro”.

E agora o novo passo populista e antidemocrático é garantir o aval às fake news espalhadas pelas redes que dão suporte a seu governo. Essa é a finalidade do novo decreto que Bolsonaro está preparando – será parecido com o que seria destinado a governadores e prefeitos contra as medidas de isolamento?

Como disse Pablo Ortellado em sua coluna, o decreto pode até passar. Dificilmente, porém, deixará de ser considerado inconstitucional. Mais difícil ainda será Bolsonaro achar que pode falar grosso com as plataformas, como se elas fossem tão submissas a ele quanto seus cegos seguidores.

E, para concluir, avança no Senado a absurda proposta da volta do voto no papel. Era um dos únicos momentos em que podíamos sentir algum tipo de superioridade diante dos EUA, que levam quase um mês para aferir seus resultados eleitorais.

 Quem fez a melhor comparação foi o ministro Luiz Roberto Barroso: seria como se voltássemos aos tempos do orelhão.