As ruas contra Bolsonaro

 

Maiores que o 29M, os atos que levaram milhares de brasileiros às ruas para gritar o seu Fora Bolsonaro neste sábado 19 dessa vez não sofreram reações policiais e estamparam as manchetes dos principais jornais do país. 

No mesmo dia em que cravamos meio milhão de mortos pela Covid-19, em protestos pacíficos que se espalharam pelos 26 estados, Distrito Federal e em todas as capitais, fora cidades do interior, como a bucólica Visconde de Mauá.

Quem marcou presença no centro do Rio foi o aniversariante Chico Buarque, entre outros artistas, criticados pelo ministro da Comunicação por lamentarem os 500 mil mortos.

O que ele esperava que eles fizessem, comemorassem? Obrigado a enfiar sua viola no saco, após a pífia e barulhenta motociata com menos de 7 mil participantes, Bolsonaro ignorou os óbitos e homenageou policiais.

Lula manteve distância, enquanto Haddad e Boulos saíram às ruas de São Paulo. 

Em meio à sequência de desatinos cometidos por esse governo foi um bálsamo sentir o pulsar da revolta contra tudo o que está aí, do boicote às vacinas, estímulo aos remédios ineficazes à imunidade de rebanho que continua a ser defendida pelo presidente, como sempre, sem  qualquer comprovação científica.

Não é difícil imaginar o quanto o presidente deve ficar contrariado, para não dizer coisa pior, ao ver o retrato da rejeição a seu governo nas ruas do país. 

Se no 29M os organizadores estimaram a participação de 420 mil manifestantes nos 227 atos organizados por aqui, dessa vez foram mais de 750 mil pessoas em 427 manifestações no Brasil e em 17 países do exterior, inclusive na Alemanha (foto), pátria do nazismo. Só na capital paulista foram estimados 100 mil, em oito quarteirões da Av. Paulista.

Impeachment, Mais Vacinas, Mais Auxílio Emergencial e Menos Fome estavam entre os gritos de guerra. Até a privatização da Eletrobrás entrou na mira dos manifestantes.  

Em menos de um mês, portanto, começa a vir à tona a insatisfação contida pelo isolamento da pandemia, até então só rompido por apoiadores. 

A crescente reação é um sinal ao presidente da Câmara, Arthur Lira - engrossado pelo superdido de impeachment que chegará, reunindo os 121 processos que apontam mais de 20 crimes contra a lei de responsabilidade - e às Forças Armadas do quão caro custará manter os caprichos de Bolsonaro.

Resta saber qual será próxima crise que o presidente vai forjar para encobrir as imagens do 19J, diante do coletivo grito de revolta, munido de máscaras e álcool gel. 

Ele não é burro para achar que o movimento não vai se alastrar. E não será o orçamento paralelo ou os aparelhamentos que conterão as ruas.