Fome fura o teto




Imagino o diálogo entre o Posto Ipiranga, agora mais para Posto de Primeiros Socorros do presidente, após este ter de engolir goela abaixo o que seria o maior pecado para um ultraliberal: assumir que vai romper com o teto de gastos.

“Chefe, temos um orçamento de R$ 1.655 trilhões. Podemos recorrer às emendas secretas do centrão. Só precisamos de R$ 30 bilhões para o Auxílio Brasil, não seria preciso fazer essa manobra arriscada de romper o teto”.

“Acontece, seu ignorante, que estou nas mãos do centrão. Se tirar esse dinheiro eles abrem o impeachment contra mim, ainda mais agora, depois do bombardeio da CPI da Covid”.

O diálogo imaginário não deve estar muito distante do que aconteceu na realidade. O ministro da Economia teve de engolir a subida dos R$ 300 para R$ 400 do tão necessário auxílio social, e só soube da mudança depois do leite derramado pelo colega da Cidadania, João Roma.

O resultado está aí: mais pedidos de demissão de auxiliares – até hoje 15 já pegaram o boné -, queda na bolsa, disparada do dólar, que trará a reboque aumentos como o dos combustíveis, às vésperas de uma greve de caminhoneiros. E mais:

Ao contrário de Mandetta, que zelou por seu nome ao sair fora para não assinar as medidas assassinas propostas pelo presidente para a pandemia, Paulo Guedes não arreda o pé. Até porque não tem para onde ir.

Engole qualquer sapo para continuar onde está, mesmo virando vilão do mercado financeiro, entidade que tolerou o atraso das vacinas, a distribuição de drogas ineficazes contra a Covid e até a fome. Porém, não atura furo no teto.  

E assim se avizinha o mais novo feito do (des) governo Bolsonaro: detonar o Plano Real. Estabilidade da moeda para quê? Se o que está em jogo é a reeleição?

Como disse o especialista Marcelo Reis Garcia à jornalista Flávia Oliveira, “Posso dizer que há razão para essa desconfiança. O que o governo faz não é política social, mas distribuição de dinheiro com objetivo eleitoral”.

Repito a análise do advogado Modesto Carvalhosa, no Globo: ”Enquanto houver reeleição, voto proporcional, fundos eleitoral e partidário, emendas do orçamento, nomeação de ministros do STF e do PGR pelos presidentes, seremos governados por essa “casta de homens públicos”.  

Resolver a fome? Não. O vale voto.

   

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