Revolta do passaporte da vacina

Arthur Lira ousou instituir o passaporte da vacina para as sessões presenciais da Câmara (e mantém a obrigação do uso de máscaras). Adivinhem que não se conformou? Claro que os bolsonaristas, com sua lógica de levar vantagem em tudo.

Para começar, foi um esboço de tapa na cara de Bolsonaro, crítico de governadores e prefeitos que fizeram o mesmo. E o próprio presidente estará impedido de entrar na Câmara, se necessário for, como ocorreu no jogo do Santos.

Argumento: a exigência fere o direito de ir e vir. Só não leva em conta o mesmo direito dos que já se vacinaram e necessitam dessa proteção básica do vírus alheio.

“Não me vacinei e exijo respeito em relação à minha decisão, nesse momento, de não me vacinar”, diz ao Globo o deputado Junio Amaral (PSL-MG). Ok. O senhor tem todo o direito de tomar essa decisão, o que não tem é o direito de colocar a saúde de seus colegas em risco.

Pior ainda foi o deputado Coronel Armando (PSL-SC), que se vacinou, porém, nega-se a apresentar o comprovante. “Estamos numa democracia, somos livres. Eu me vacinei duas vezes mas não vou mostrar cartão algum”. É um remanescente daquele grupo “sabe com quem está falando?”.

Mais estúpido, impossível. Desconhece que na democracia os direitos terminam onde começam os direitos do outro. Só espero que nenhum deles se reeleja.

A presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Bia Kicis, reagiu logo que a medida começou a ser anunciada: “Essa carteira de vacinação é inócua e fere o direito de quem opta por não se vacinar por não se sentir seguro”, argumentou.

Será que vai se sentir mais seguro quando contrair a Covid, começar a ter falta de ar e ser internado? Será que os números do Brasil, que finalmente despencam graças à vacinação em massa – predicado do SUS que só não for melhor pelas sabotagens sofridas – não são suficientes para convencê-la?

Bolsonaro, por sua vez, que continua negando as vacinas e defendendo o tratamento precoce, cita exemplos de pessoas vacinadas que voltaram a se infectar. 

Se ele se informasse, saberia que isso de fato acontece, porque as vacinas ainda não têm o poder de impedir o contágio. Elas evitam, sim, casos mais graves, internações e mortes.

Em meio à vista grossa a todos os malfeitos do chefe, sobretudo em relação à pandemia, pelo menos o presidente da Câmara adota uma medida capaz de proteger vidas.

Já no combate à corrupção...