Ri melhor quem ri por último

 

Quando Flávio imitou a gargalhada do pai diante do relatório da CPI da Covid, havia ali um componente nervoso do medo, embutido no deboche.

Tanto Bolsonaro conhece seu risco, que correu em aumentar em R$ 100 o (necessário) Auxílio Brasil, sua boia de salvação para as eleições de 2022. Mais do que nunca, precisará da imunidade para não ir parar atrás das grades.

O senador Randolfe Rodrigues, vice da CPI, estima que os crimes imputados ao presidente somem mais de 100 anos de prisão. Se há alguma tranquilidade por Bolsonaro, é saber que o relatório vai parar nos aliados Augusto Aras e Arthur Lira.

Rodrigues sustenta, contudo, que não restarão argumentos ao PGR para alegar falta de embasamento ao relatório. 

Se há algo que tem mobilizado minha indignação é acompanhar o cotidiano de absurdos cometidos por Bolsonaro durante a mais mortífera crise sanitária já vivida pelo país, fartamente reproduzida neste blog.

A sequência de óbitos que saltavam aos milhares dia a dia, porém, conquistou uma inacreditável naturalização pelos brasileiros. A não ser pelos que perderam entes queridos, as mortes eram acompanhadas como meros acidentes de avião ocorridos em progressão geométrica.

Houve até um bolsonarista que as comparou aos óbitos por desastres automobilísticos nas gestões FHC e Dilma.    

O negacionismo do presidente, que levou aos crimes, omissões e à corrupção, seria o motor das mais de 604 mil vidas de brasileiros perdidas.

Se os para-raios de Bolsonaro cumprirem seus papeis, a CPI criou mecanismos para os familiares das vítimas se dirigirem direto ao STF. Os culpados têm de responder por seus atos.

E, enquanto a pandemia continua a ameaçar o planeta, o comportamento de vilão de Bolsonaro, que transformou o Brasil em pária, passa a nos alçar a exemplo mundial, pelo sério trabalho desenvolvido nesses seis meses de CPI.  

Conforme o correspondente Jamil Chade, procuradores abriram investigações em todo o mundo na tentativa de responsabilizar políticos pelas mortes em seus países.

“Nenhum desses exercícios conseguiu realizar um mergulho tão aprofundado quanto o relatório da CPI”, afirma, no El País. O resultado são dezenas de especialistas analisando o documento para se encaixarem nos mesmos padrões.

“Não houve armas como vingança, mas a lei, único instrumento ao qual uma democracia pode recorrer." Vem daí o papel histórico da CPI na trajetória global do vírus.

Já dizia o ditado: ri melhor quem ri por último.