Uma embaixada ao aliado

 

Sabe aquela história da raposa cuidando do galinheiro, tão recorrente no governo Bolsonaro? Pois é, volta a acontecer. 

O ministro do TCU, Raimundo Carreiro, o mesmo que julga os excessos do cartão corporativo da presidência, vai ser nomeado embaixador do Brasil em Portugal.

Independente dos méritos de Carreiro, cuja indicação já tem a concordância do governo português, alguém acredita que ele vai criar algum caso com a gastança do clã?

Elias Vaz (PSB-GO), da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, acaba de entrar com um pedido de suspeição contra Carreiro.

Motivos não faltam. Segundo o Globo, o custo médio por mês da família presidencial é de R$ 1,5 milhão. Haja leite condensado! Até outubro, os gastos acumulados chegavam a R$ 14,4 milhões.

“A transparência é regra, o sigilo é a exceção”, defende Vaz, para quem a segurança seria a única justificativa para a manutenção de sigilo do cartão.

No último dia 4, Bolsonaro derramou-se em elogios a seu mais novo protegido. “Não tem quem não seja apaixonado pelo Carreiro. Amigo de todo mundo. Se Deus quiser, vai para Portugal, não por minha vontade, mas porque merece”.

O futuro embaixador, que já deve estar reservando seu estoque particular de Peras Mancas (um dos melhores e mais caros vinhos portugueses, cuja garrafa chega aqui a cerca de R$ 5 mil), disse já ter mandado pautar o julgamento.

“Eu me sinto bastante à vontade para relatar todos os processos da Presidência da República”, garantiu.

E alegou que a auditoria demora tempo, por ser um processo enorme, “tem de 80 a 90 páginas”, completou o ministro, que sentiu-se “lisonjeado” com os elogios do presidente.

A auditoria foi solicitada pelo colegiado da Câmara em maio sobre as despesas com alimentação, hospedagem, transporte e entretenimento. O processo analisado por Carreiro correu em sigilo e terminou em 28 de setembro. Agora, só aguarda o despacho final do ministro.

Bolsonaro, cuja especialidade é fazer tudo ao contrário do que sempre pregou, era um crítico contumaz dos cartões corporativos e de seu sigilo nos tempos de deputado.

E, claro, chegou a desafiar Lula, em discurso na Câmara, em 2008, a abrir o jogo. Prometeu fazer o mesmo em live de 2019, porém, para quem está com a popularidade nocauteada, ele sabe que seria uma temeridade.